Um exercício de futurologia desaforada
por Roberto Tietzmann
 
 
Nos últimos anos vários futuros caíram em pedaços ante aos nossos olhos. O futuro do emprego vitalício. O futuro do sistema totalitário. O futuro isolado do mundo, parecido com o passado. Entre todos eles, nenhum parece mais utópico do que aquele futuro em que as máquinas iriam substituir o trabalho humano, permitindo aos filhos de Deus viverem eternamente de papo pro ar.

Na verdade o futuro como utopia acabou. Vai esperar o quê? O ano 2000? É daqui a menos de dois anos... e até lá nem vou ter terminado de pagar meu apartamento. E é milênio para quem, cara pálida? Para os cristãos? E são eles que mandam no Universo? Para os budistas e judeus a data é outra. E, francamente, o universo está cagando pra 2 milênios frente aos seus bilhões e bilhões.

Não, o ano 2000 só vai resolver a vida dos fabricantes de fogos de artifício e dos donos de hotéis em Copacabana e em Nova Iorque. No dia primeiro de janeiro as contas vão continuar a chegar pelo correio. A "Era de Aquário" fica muito bonita na trilha do Hair, mas parece cada vez mais distante com a natureza sendo depredada e a espiritualidade sendo desculpa para comércio e mil clichês banais.

Vale o que nos parece certo e, em meio a nossa eterna ignorância, agarramos o que está mais próximo e adoramos tal coisa como a Verdade. Toda verdade é um mal-entendido sujeito a milhares de interpretações. Talvez as únicas exceções sejam a morte e os impostos. Dela ninguém escapa. Deles, só nas ilhas Caimãs... e olhe lá!

Não adianta esperar o futuro chegar. Ele vai dar uma desculpa e não aparecer. A única saída é fazer o que acha e esperar que funcione. Fazendo isso ano após ano você acabará velho, careca e barrigudo. Mas pelo menos poderá dizer:

- Puxa, que vidão!