Fluxo

por Simone Dias Marques

Sem sentir abriu a porta e quando abriu os olhos pois os conservava fechados até então como dizia abriu os olhos e viu. viu ele o Nada e abriu os olhos ainda mais e chegou a amiudá-los para focalizar melhor a escuridão talvez seja a miopia que se transformou de vez em cegueira pensou e já era tarde porque o passo inicial que o fizera ultrapassar os limites da porta os limites com o mundo real e visível para os olhos aquele mundo era então passado inlembrável. e nada mais sentia isso ´é muito confuso pensou mas nem os pensamentos mais lhe pertenciam e apalpou-se porém nada achou e tudo era o nada que ao redor infinito dominava. consciente ainda que se julgasse imerso num pesadelo ou quem sabe louco tivesse como dizia consciente porque não era fácil abandonar essa danada muitas vezes teve insônia por não conseguir parar o fluxo de pensamentos que lhe jorrava feito sangue que espirra forte de uma perna decepada consciente e cego e tentou enfiar um dedo num dos olhos mas achou dedo e olho nenhum e ficou temeroso porque nem isso lhe causara

alguma emoção. morto talvez pensou. pensou ou ou. eco essas condicionais. morto?

tentou lembrar o que fizera antes de abrir a porta ou o que teria comido será que poderia estar sonhando perguntou ao Nada que nada lhe respondeu. nem corpo nem palavra apenas pensamento e quem sabe nem isso quem sabe daqui a pouco nem pensar nem consciência mais tenha e torne-se o que o que ele pergunta agora para si porque bobo ele não é pode ser um nãoseioque mas bobo não. dái veio o insight.

aparecera-lhe a imagem em azul e magenta com um pouco de claro que dava o branco um tom de luz. Ray Conniff. Isso merda isso que merda exclamou. emoção não apenas indignação. a imagem em mais azul que outra cor e aquela cara cor de rosa de olhos esbugalhados e inchados e o capacete de fios de cabelos dando uma forma misto de tosca e debilóide à cabeça e um rosto sim o rosto também em rosa com uma fenda que abre e dali saem aquelas coisas terríveis inumanas a forma mais hipócrita que pode existir depois de Frank Sinatra e seus olhinhos de pedra marinha. aquele monstro você imagina a sociedade americana e sua moral de ceroulas e sua falsa cultura erudita belabosta e aquelas cançõezinhas de natal e o próprio natal com o imbecil do papai ó papai noel rindo das criancinhas famintas do terceiro mundo ops dos países emergentes e também da boca aberta do Ray Conniff como esquecer aquela boca e aí se forma uma imagem só que simboliza feito uma figurinha toda essa belabosta tudo isso toda essa merrrrrrda e mais o cabelo de capacete do Ray Conniff e a sua voz de papai noel aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii eu odeio sim eu sei agora eu sinto algo... e é forte e é ruim que vontade de voltar de voltar e cruzar a porta de novo não porque tenha me arrependido mas para voltar lá atrás e desligar a tevê e pegar meu chapéu e o casaco e sair pela porta dos fundos claro para não cair de novo nessa escuridão e sair e pegar um avião e ir lá naquela belabosta e invadir o teatro onde aquele velho imbecil abre a sua boquinha e balança o corpo decrepto ensacado no terno e calça e sapatos e cabelos brancos e chegar bem na frente dele e da orquestra de homenzinhos e mulheres maquiadas de vestido brilhante e cara de felicidade comprada na promoção do supermercado e parar diante de toda essa belabosta mas principalmente na frente dele e teria que ser algo rápido porque senão a segurança vem pra cima e vai vir de qualquer jeito e parar na frente do símbolo de um dos símbolos da hipocrisia ocidental-americana e abrir fogo bem dentro da boquinha aberta dele na hora que ele estiver fazendo um daqueles aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh intermináveis. depois eu solto o ar dos pulmões e sorrio para as câmeras um sorriso sincero e íntegro de vontade e me abaixo e ajeito o cabelo do Ray Conniff que ficou meio desajeitado sabe como é a gente pode até cair e morrer com um docinho flamejante e gorducho de 12 dentro da barriga mas o cabelo tem que estar bem.