Bundas: O país que ousa dizer seu nome

Por Jorge Furtado

          Só ter o Millôr e o Veríssimo na mesma revista já nos daria ânimo para mais 500 anos. Com o resto da turma, chego a acreditar outra vez que este é o país do futuro. Dei de cara com Bundas estampando o ACM na capa e pensei: nos furaram. Propus um dossiê ACM no número 62, prometi para o 63 e miquei. Os textos que chegaram tinham mais ofensas que argumentos. Tentei arrecadar algumas "informações objetivas", esses números, nomes e datas que enchem a boca dos debatedores e fazem vista para a platéia. Não encontrei e ainda levei pau do Foguinho, que me viu movido por um inconfessável "racismo sulista".

          As acusações da pasta rosa reveladas pela Carta Capital são complicadas ou vagas demais. ACM era sócio de Calmon de Sá no falido Econômico e usou sua força política - e o nosso dinheiro - para salvar o dele. E aí? Quase todos fazem isso quase todo o tempo, desde sempre. A única página anti-ACM da rede foi tirada do ar, substituída por uma foto do pôr-do-sol em Salvador. E acabo de ver o Roda Viva com ele e, fora a prepotência de sempre e um certo desequilíbrio ao responder sobre nepotismo, se saiu muito bem, isto é, utilizou-se de argumentos desonestos para defender o indefensável mantendo um tom de voz convincente. Já estava esmorecendo em minha cruzada e quase disposto a concordar com Daniela Mercury que a Bahia é o Brasil quando Bundas sopra sobre o país um flato de esperança. E o Millôr ainda tripudia: "Não confie em ninguém com menos de 60 anos". Para variar, certo ele.

          Sabiamente Bundas não traz fatos novos sobre ACM. Todos os fatos sobre ACM são velhos. Sabiamente Bundas não analisa ACM sob a luz da razão. O jornalisticamente correto é julgá-lo com o nariz. Bundas investe contra ACM com o desrespeito que ele merece. Contra ACM, há tanto tempo com tanto poder, as evidências valem mais que provas. Ele é individualmente o maior responsável pelos rumos do país nos últimos 35 anos. Os militares, a ARENA/PDS/PPB, o PMDB e o PSDB têm se revezado na missão de ampliar o fosso social brasileiro. Só ACM está sempre lá, cavando, certo como a morte.

          Bundas lava a alma nacional. A qualidade da revista é espantosa, da capa do Caruso ao Adão, passando por obras primas do Laerte, Jaguar, Nani, e Ziraldo, pela lucidez do Gabeira e do Sérgio Augusto e as novidades Elesbão e Haroldinho. Gostei até do Aldir Blanc, de quem não lia uma frase desde o dia em que ele atacou bisonhamente ao time do Grêmio, afirmando que "preferia perder a ser campeão com dois zagueiros paraguaios" (Arce e Rivarola). Pensando bem, não gostei tanto assim do Aldir Blanc.

          Como cidadão e leitor, fui dormir mais tranqüilo. Mas como um dos editores e colaboradores do Não, mesmo sabendo que eles são os melhores jornalistas do Brasil e têm um patrocinador a mais que nós, tenho que confessar minha frustração: levar furo de Bundas é um cu.