A VAMPIRA E O POLAQUINHO

Por José Olímpio

          A tarde cai morna como o suor dele, no ônibus lotado. Boleslau detestava ser encanador há 15 anos. “- E, olha que 15 não são 5, nem 3, nem ½...”, lamentava-se diuturnamente.

          Pra começar, aquele nome: BOLESLAU... Era risadinha mal-disfarçada à toda hora, por conta daquela maldita escolha materna...

          O ônibus pára, o polaco salta ainda suando. Olha os prédios muito parecidos, consulta o papelzinho amassado e começa a descer a rua. Na porta de um bloco cinza, três andares precisando de pintura, aperta o botão na parede e diz mecanicamente: “- É o encanador, dona...” A porta destranca.

          Arrastando a sacola de ferramentas, feito Cristo com a cruz num braço só, Boleslau sobe os três lances da escada fazendo cara de vítima. Antes de percutir os nós dos dedos contra a porta verde musgo, antecipa mentalmente a cara de desespero de mais uma dona-de-casa histérica, despenteada e cheirando a alho, cercada de crianças ranhentas e se lamentando pelo vaso entupido no banheiro. Cada figura chata que a firma arranjava pra ele atender...! “Toc, toc, toc....”

          Nem mocréia e nem princesa, sem pirralho à vista e sem perfumes de cozinha, a morena abre a porta sem alarde, sem afobação e sem se preocupar com a informalidade da única roupa que parece vestir: um camisetão cinza.

          “- Entra, moço. O problema é na pia do banheiro.” Meio que sorri, dissimulada. Devia estar nos trinta e pico, cabelo lustroso, pele boa e fala mansa. O olhar meio disperso não revela gentileza ou atenção.

          Deprimido demais para notar o par de pernas descobertas que se movem à sua frente, Boleslau só nota que a dona tem peitos crescidos e firmes o bastante para não balançarem escandalosamente, soltos dentro da camiseta.

          Na frente da pia, o vazamento é óbvio.

          “- Coisa pouca, dona. É só trocar o reparo, tenho um aqui na bolsa...”

          “- Menos mal... Já tô cheia de enxugar o chão.” (Suspira) “ Ai, mas se fosse só esse o caso...”

          O polaco nem escuta, continua abaixado a remexar na bolsa de lona, catando o reparo sumido. Ela baixa a voz e dá meio passo na direção dele.

          “- Tem coisas que uma mulher sozinha nunca pode resolver...” -Dois segundos depois, quando já se prepara para desarcar as costas magras e começar o conserto, Boleslau sente a mão dela agarrando seu escroto por trás. Antes que o susto seja compensado pela massagem inesperada, o hálito da morena invade sua orelha direita:

          “- Será que isso também tá incluído no serviço?...”

          “- ??!...”

          “- Humm, você tá gostando, não tá?...”

          Faltando pouco para perder a compostura, o encanador desconfia de alguma armação e esboça uma negativa. Mas, já e tarde. Ela arranca a camiseta, ajoelha-se e ele só consegue ouvir uma coisa entre o ruído do zíper e o gemido dela:

          “- ... Adoro fazer isso, hmmm...!”

o*O*o

          Sete minutos depois, arrastando a bolsa-cruz escada abaixo, Boleslau não lamenta o prazer forçado que a mulher lhe causara. Parecia uma vampira insaciável, só parou quando ele descarregou séculos de abstinência conjugal...

          Não lamentou tê-la golpeado tão forte com a chave inglêsa, quando ela riu de sua explosão precoce e exigiu mais.

          Matá-la foi fácil. Complicado foi limpar a boca da infeliz, poço da culpa e da condenação."