Encontros 1

Programados pelo destino

por Daniel Peccini

Engraçada esta vida, quando a gente menos espera ela aparece na nossa frente pintada de vermelho, fazendo sinal e gritando no nosso ouvido e nem sequer percebemos.Desde os tempos de guri que eu reparo naquela guria, alí solitária no meio do povo, dando uma de mandona nas outras gurias e fazendo charminho para os caras mais velhos. Ela é daquelas que quando a gente acha que ela tá dando bola, nem sequer olha na cara. Mas isso é só aparência. De 6 em 6 meses eu encontrava ela numa esquina. Via ela caminhando pela rua, num barzinho e até já vi ela tirando xerox numa loja. A minha reação era sempre a mesma, ficava pensando: olha lá aquela guria, que bonita que ela tá. Cinco minutos depois, eu esquecia que ela existia e voltava para casa como se nada tivesse acontecido. Perdi as contas de quantas vezes isso aconteceu, mas como já disse, isso acontece há muito tempo. Até que no ano passado, 6 meses depois de tê-la encontrado pela última vez, encontrei-a novamente, só que desta vez trabalhando numa loja que eu sou freqüentador. Pensei: olha lá aquela guria, que bonita que ela tá. E desta vez vou ter uma desculpa para pelo menos ouvir a voz dela e saber como ela é. Posso dizer que não ficamos amigos de imediato. Ela me tratou como cliente. Também pudera, as minhas paranóias não são assimiláveis pelas outras pessoas na maioria das vezes. Cinco minutos depois voltei para casa e nem lembrava da existência dela. Progresso. Apenas 3 meses depois encontrei ela num bar e sozinha. Ela veio até onde eu estava e ficou ali por um tempo. Eu fui educado, conversamos na boa, dançamos e voltamos para casa. Cinco minutos depois eu não lembrava mais dela. Ontem, 3 meses depois do último encontro, aconteceu algo diferente. Nos encontramos na rua e descobrimos que íamos para o mesmo destino, então fomos caminhando lado a lado até o fim da cidade. Sentamos para descansar um pouco, olhamos o por do sol e ficamos conversando aquelas bobagens que só o Domingo pode inspirar. Voltei para casa e cinco minutos depois não parava de pensar nela. (Este conto era para ter acabado aqui, mas tem mais). O parágrafo acima foi escrito na segunda feira. Hoje, quarta, tenho mais uma novidade para acrescentar a esta história que insiste em continuar mesmo depois do ponto final da segunda. Sim, novamente encontrei ela na rua. Só que desta vez em Porto Alegre (as outras tinham sido em Caxias do Sul). Queria ter idéias para poder explicar o que está acontecendo e contar para vocês. Sei bem o que quero pensar e sou suspeito para tentar dar uma explicação porque darei a que tem o final que eu quero. Então não vou escrever nada a respeito, apenas pegar meu ônibus de volta para Caxias que já está sendo o suficiente.

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