PALMAS PARA O PÚBLICO
(OU: DEPOIS DE GRAMADO)
por Tomás Creus
 
 
No meu brevíssimo discurso depois de segurar o pesadíssimo Kikito, eu mencionei a equipe, o elenco, a família, mas esqueci de mencionar o essencial: o público. Se eu não estivesse tão nervoso por estar em cima do palco e ter acabado de beijar a Denise Fraga, isto é o que eu teria dito: “agradeço a este público maravilhoso, pois é para ele - para vocês - que o cinema é feito. Palmas para vocês.”

O melhor prêmio para “O Oitavo Selo” foi, com certeza, a resposta e o prêmio do público. Da escolha do júri, na categoria dos curtas, também não posso reclamar, pois ganhei o prêmio de Melhor Roteiro, o que já foi ótimo. Mas, enquanto espectador dos longas,  algumas coisas me intrigam. Por exemplo: o público escolheu como melhor filme de longa-metragem o ótimo filme espanhol “Os Amantes do Círculo Polar”. O júri deu o prêmio ao português “À Sombra dos Abutres.” Por que essa divergência de opiniões?

O júri tem razões que a própria razão desconhece. Mas por que premiaram como Melhor Filme o português, do qual nem o diretor, a julgar pelo seu discurso, gostou tanto assim? Convenhamos, era um filme bom, mas tinha algumas cenas óbvias e previsíveis - a mancha de sangue na manga do casaco do médico, o beijo entre o foragido e a mulher solitária da casa... E, se o filme espanhol já tinha os prêmios de melhor roteiro e direção, por que negar-lhe o de melhor filme? Não há um contra-senso aí?

Mas enfim, deixemos esses mistérios para a posteridade: não é só em Gramado que isso acontece. No último festival de Cannes, o filme mais aplaudido e elogiado foi “Todo sobre mi Madre”, de Pedro Almodóvar. Ganhou a nulidade belga “A Pedra de Rosetta”. Quem pode explicar?

Pontos positivos de Gramado:

- a mostra de Super-8, melhor do que o ano passado, e valendo a pena só pelo “Kali Gara”;

- os curtas gaúchos tanto em 16 mm como em 35 mm, todos de gente nova e boa;

- a qualidade média dos longas, sem nenhum muito chato;

- o filme espanhol e o documentário do Coutinho (“Santo Forte”);

- os discursos, em geral breves;

- a neve.

Pontos negativos:

- a peruagem de sempre;

- a casa de Caras;

- a economia na distribuição de convites para pessoas da equipe de filmes concorrentes, aliada à farta distribuição de convites para supostos VIPs que, em vez de assistir os filmes, preferiam ficar lá fora acenando para as câmeras de TV;

- a projeção dos filmes (com vários problemas de som);

- a sala de cinema vazia e o saguão lotado;

- os gastos com holofotes e tapetes vermelhos num festival austero;

- a gripe que eu peguei por causa da neve.
 
 
Tomás Creus
tomas@cpovo.net
 
 

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