A Confraria em guerra
por Rafael Guimaraens 04/05/2000 - 00:05




A conduta do detentor da página 10 de ZH – de resto, do “comunicador” das 6 e meia da manhã, do fofoqueiro da página 3 do JC, de alguns colunistas defenestrados da Gazeta Sul porque diariamente emporcalhavam o nome de uma instituição séria como é o grupo dos Levy e de alguns mais ou menos enrustidos que compõem uma verdadeira confraria dos chamados “formadores de opinião”, felizmente, nem todos – lembra aquela frase clássica do jornalismo, acho que do Hemingway: “Numa guerra, a primeira vítima é a verdade”. Esses sujeitos estão em guerra permanente e quando mais derrotas sofrem, maior o calibre das leviandades que acionam.

Mesmo que ZH não tenha um passado dos mais recomendáveis, poucos vezes suas páginas abrigaram uma vulgaridade similar à nota publicada na Página 10 (na verdade, saiu na página 14) do dia 2 de maio. Naquelas sete linhas está estampado o perfil do (ir)responsável por aquele espaço. Pior. Não se conhece qualquer providência dos diretores da empresa diante dessa ofensa gratuita ao governador legitimamente eleito pelos gaúchos, até porque esta postura acaba sendo conveniente. Pode-se dizer que Mendelski e Barrionuevo formam a ala mundo cão da RBS na sua guerra santa contra o Governo do Estado e o PT. (Aliás, o Rogério foi condenado por calúnia e difamação e obrigado pela Justiça, vejam só, a realizar “trabalhos comunitários”. Brincadeira tem hora!). Diante de qualquer questionamento, vem a resposta solene da alta cúpula: “A RBS não costuma censurar as opiniões de seus comunicadores”. O que não é bem verdade, porque, em anos passados, o Veríssimo sofreu censura interna.

Aliás, no início do ano, o próprio Veríssimo acertou na veia quando interpretou a ferocidade da oposição contra o Governo Olívio. Disse ele que Britto e seus rapazes contavam com um longo período de usufruto do poder e de suas benesses, mas o tapete foi bruscamente encurtado, desnorteando a tchurma.. O mesmo serve para os comunicadores acima referidos, saudosos do tempo em que trocavam figurinhas nos salões do Piratini ou recebiam telefonemas do eterno ex-portavoz do Tancredo e que lambuzavam a cueca cada vez que o ouviam chamar seus oposicionistas de “micuins”. (parênteses: vocês já notaram o silêncio do Britto diante das suspeitas de envenenamento do Tancredo? Ninguém foi atrás? Cadê o jornalismo que tava aqui?)

Britto perdeu e muitos perderam: privilégios, vida mansa, furos “jornalísticos” dados de bandeja pelos marqueteiros governamentais, viagens "de grátis" pro exterior para fazer o marketing oficial e todas aquelas coisas que tanto agradam aos piolhos do poder. A dimensão da perda equivale ao tamanho do ressentimento. Lendo a página 10, dá pra perceber o tamanho do ressentimento e, portanto, o que esse cara perdeu a partir de 25 de outubro de 98. Não se pode evitar que um cara que perdeu a mulher fale mal do outro, mas que o faça chutando as paredes do apartamento ou chorando em mesa de bar e não escrevendo em jornal.

Num dia, ele disse que o governador teve uma agenda “leve” na sua viagem ao Uruguai e Argentina, num esforço para desgastar a imagem de Olívio, mas na edição anterior ZH havia publicado uma ampla matéria relatando o encontro com o presidente uruguaio, os convênios de intercâmbio assinados, a formação de uma comissão bilateral aproximando pequenas empresas
do RS e da Argentina. Agenda intensa e profícua, portanto.

Outro dia, pegou um trecho do discurso do governador do primeiro de maio e disse que o Olívio era contra a informática, justamente na véspera de um evento internacional promovido pelo Governo sobre software livres, com ampla repercussão no país.

Convencionou-se chamar os que ocupam espaços nos meios de comunicação do nome pomposo de “formadores de opinião”. No caso do colunista da página 10, esse nome soa estranho. Desde que se conhece por “formador de opinião”, Barrionuevo combate o PT que, no entanto, cada vez tem mais votos do eleitorado. Em 96, Raul Pont ganhou a Prefeitura no primeiro turno, quando a Página 10 insistia diariamente que haveria segundo turno. Em 98, Olívio ganhou no segundo turno, depois que a Página 10 garantira aos seus leitores que Britto liquidaria a fatura no dia 3 de outubro.

Portanto, é de se perguntar: que opinião ele forma?

Em qualquer imprensa séria, alguém já teria dito pra ele: “cara, tu não dá uma dentro! Tudo que tu escreves, acontece ao contrário. Tenta outra coisa! Quem sabe, volta pro exército?”

Mas, não. Ter um colunista sério, independente, bem informado, dotado de bom senso e respeitado pelos leitores não é um gênero de primeira necessidade no jornalismo de recados e futricas destes tempos neoliberais.

Afinal, estamos em guerra.

Atenção, leitor: tenho um lado na história. Trabalho no Palácio e acredito no projeto do Governo. Mas acho que a crítica séria e fundamentada, por mais forte que seja, contribui para a democracia, para a cidadania e até para a implantação deste projeto.

Rafael Guimaraens
 

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