O Submarino, a imprensa, a radiação e a eleição

Por Barê Junqueira, de Los Angeles

Dá pra ver que o governo russo ainda tem muito o que fazer pra melhorar a imagem perante o mundo. O carma que eles carregam realmente não é café pequeno. Será que, se eles tivessem salvo os marinheiros em curto espaço de tempo, a imprensa estaria falando por tanto tempo sobre o assunto?

Fico observando como a mídia trabalha e como os espectadores são influenciados em suas opiniões. A mídia americana e, infelizmente, a grande maioria da imprensa do mundo ocidental, é bastante tendenciosa e escolhe os assuntos que mais lhe convém. Sem entrar em

méritos ou culpas do governo russo, o fato é que o submarino sofreu um acidente, e o governo não planejou deliberadamente a morte dos 118 marinheiros. Mas o excesso de cobertura que foi dado ao assunto vem justamente do fato de que o navio é RUSSO, os caras não comunicaram prontamente e não pediram ajuda ao resto do mundo. E isso propiciou à mídia umas 4 semanas de manchetes na imprensa em geral.

Por quê então não se vê quase sequer uma linha escrita sobre o genocídio que a China vem cometendo desde a invasão do Tibet em 1959, e o colonialismo que eles praticam em pleno séc. XXI no Tibet? Milhões (não apenas 118) de pessoas foram brutalmente assassinadas - não foi acidente - simplesmente porque eram religiosas, milhares de templos foram destruídos,

e hoje em dia a população tibetana restante vive sob um regime militar ditatorial de repressão, onde a única opção de sobrevivência digna é o exílio.

Porque é mais importante mostrar que os russos fazem cagadas e que os americanos continuam sendo os salvadores do mundo (com exceção do Tibet e outros países africanos, por exemplo). Outro fato interessante é que aqui em Los Angeles temos canais de TV em espanhol, que mostram, por exemplo, fazendeiros texanos matando, com suas próprias mãos, mexicanos tentando atravessar a fronteira ilegalmente, enquanto que nos canais em inglês não se vê uma

reportagem sequer sobre o assunto. Por quê será que os jornalistas brasileiros não mostram

estas reportagens na imprensa nacional? O espanhol é ainda mais acessível do que o inglês...

Quando navego pela internet, lendo os jornais brasileiros, vejo, com frequência, que é dada uma prioridade às reportagens com assuntos muito a ver com os interesses do EUA e pouco a ver com o Brasil. Parece que os jornalistas brasileiros não tem muitas alternativas além de traduzir o que eles recebem da imprensa americana. E com o passar do tempo, a população acaba até acreditando que esses assuntos são mesmo prioritários.

O assunto agora é o risco de radiação proveniente do submarino. Porém, não esqueçamos que os EUA são a maior potência nuclear do mundo e que o risco de radiação proveniente do arsenal deles é muito maior. Será que tem espaço na imprensa internacional pra falar do lixo atômico produzido pelos EUA?

Para ilustrar, um exemplo entre muitos outros:

O agora candidato democrata à Presidência dos EUA, Al Gore, promete na atual campanha que vai brigar com unhas e dentes pelos problemas ambientais. Acontece que, quando fazia campanha há 8 anos atrás, havia prometido a uma escola primária do interior do estado de Ohio que, se fosse eleito, mandaria fechar uma incineradora de lixo tóxico, vizinha àquela escola. Os gases de exaustão haviam sido examinados e constatou-se que eram cancerígenos. Al Gore mostrou-se, na época, extremamente preocupado com a saúde daquelas crianças. Well, passaram-se 8 anos. E a tal incineradora funcionou, religiosamente, 365 dias de cada um dos 8 anos, e está lá, neste exato momento, incinerando, e as chaminés fumegando...

Quanto mais observo, mais eu me dou conta que é muito importante, pra nós indivíduos que desejamos um mundo melhor, mais justo e com mais paz, selecionarmos com muito critério o que a imprensa publica. É importante não esquecermos que a chamada "liberdade" de imprensa, é uma liberdade "financiada" pelos que detêm poderes políticos e econômicos. Será que liberdade de imprensa só é possível gracas ao capitalismo? Se a resposta for, temeráriamente, sim, precisamos então analisar com mais vagar quais são os parâmetros da filosofia capitalista. Obvio do óbvio, a quem se destinam os benefícios que essa filosofia prega?