Pau também é gente mas não tem conta em banco

Por Marcelo Benvenutti

Vocês devem saber que sou paranóico. Paranóico por saber que vocês todos me perseguem. É, eu também tenho mania de perseguição. E sou megalomaníaco. Mas isso é só o começo. Conheço também um cara que é homossexual. Viado, pois não. Mas o desgraçado é sadomasoquista. Então o filhodumaputa é o maior comedor da parada. É que sendo sadomasoquista ele se satisfaz fazendo o que mais odeia: comer vagabundas. Conquistá-las e comer o cuzinho na primeira noite. Ele é o maior fodão do pedaço. Mas é um tremendo puto, isso sim. Depois, tava me lembrando
de um filme que vi na época em que as locadoras eram lotadas de filmes pirateados. Bons tempos aqueles. Sem distribuidoras nem policia federal. Tinha um Calígula todo cortado que uma hora ele comia a irmã, na outra tava morto. E tinha um pornô do cara que tinha um caralho na cabeça. E o
infeliz era careca. Tipo esses boiolas que freqüentam o Nova Olaria. E as mulheres sentavam em sua cabeça. E Get Crazy. Um filme sobre uma festa de fim de ano em que o Lou Reed pegava um táxi e fazia um deboche dele mesmo compondo uma música idiota e interminável que não significava coisa alguma. E que o Malcom McDowell, aquele cara de tarado do Laranja Mecânica e do próprio Calígula, sem falar em If, e que, ultimamente, tava fazendo uma refilmagem do seriado O Barco do Amor em uma dessas tevê a cabo bagaceiras, começa a conversar com o próprio pau no
banheiro. E como o pau tinha coisas pra falar! Aliás, vocês, homens, é óbvio, dão nome pro próprio pau? Tipo Jimi Hendrix? Che Guevara? Antônio Conselheiro? Sei lá. Nunca fiz isso. Mas sei que nunca chamaria de Juscelino Kubischek. Coisa mais brochante. JK então? Argue! E Airton Senna? Deus me livre, cara! Tem cara que até hoje tu tá lá, numa boa, tomando aquela cerveja e pensando em bosta nenhuma, olhando as calcinhas da guria da mesa da frente que insiste em sentar de perna aberta, e um chato de plantão vem te falar da admiração dele pelo Airton Senna.
Foda-se. Foda-se a mãe dele. Foda-se. Foda-se! Foda-se! O Airton Senna fez o que quis da vida e enfiou o carro num muro a trocentos quilômetros por hora e vem um sujeito aí me dizer que ele era herói. Fodam-se os heróis. Heróis imbecis são criados pelos fracassados e frustrados que
não têm o que fazer com a própria mediocridade de suas vidas. O herói nem tem culpa dessa merda toda. Vocês acham que o Raul Seixas queria ser líder de uma merda de revolução? Porra nenhuma. O cara só queria encher a cara e tocar Elvis Presley. O resto é invenção desse bando de ripe chato que ficando fazendo roda de violão, eca!, na frente dos bares, e importunando nosso saco com cantorias do Raul, daquele pé na bunda do Renato Russo, do Bob Marley e até dos Raimundos. E o Jim Morrison. Neguinho foi exterminado por aquele imbecil do Oliver Stone. E o Kurt
Cobain. Carinha era lóqui e deu! Tomava nos canos e enfiou uma azeitonada nas fuças. Herói bom é herói morto. O canal, irque!, o canal mesmo é olhar O Homem Que Matou Lúcio Flávio. O Jece Valadão se olhando no espelho enquanto come uma vagabunda qualquer e dizendo: Eu sou foda!
Ou algo que o valha. E a cena de tortura em que os caras conversam assuntos familiares enquanto dão choque elétrico no saco de um pseudo comunista ouvindo Lady Laura do Roberto Carlos a todo volume? Nem me lembro direito porque escrevi sobre tudo isso. Ah! É que sou meio megalomaníaco e perseguido por todos vocês que querem me destruir. Só porque sabem que eu sou o melhor. Não sei em que. Mas, certamente , sou o melhor. E pra não dizer que não falei de flores, vocês já viram um cordão de estudantes, de braços unidos, cantando essa música, em um dia de paralisação de aulas em protesto contra qualquer coisa inócua dessas como FMI, FHC e ACM? Vem vamos embora que esperar não é saber quem sabe faz a hora não espera acontecer ... Ai, Ai, Ai, como eram bons aqueles dias. O joelho da Nara Leão cantando Águas de Março. O homem na Lua. Uma história em quadrinhos que a mulher, dando prum cara, berrava me perfura com essa tua retroescavadeira. O único problema é que tudo isso aconteceu antes da minha lobotomia. Eu nem sinto falta do pedaço do cérebro. O problema é a chapa de metal que colocaram na minha cabeça. Um
dia desses mato um guardinha de banco.

Cel. Vandré, condecorado com a ordem do Grão-De-Pó da Ordem Unida por seus serviços prestados durante a batalha naval na casa do Gen. Onorino. O quindim estava delicioso. O duro foi comer a empregada de armadura.