Nas teias da rede

por Manoela Sawitzki

manusaw@bol.com.br

Sociedade informacional - rede de uma trama global, teias de aranhas mutantes, com milhares de "pernas- links", "megabytes" nos olhos, cabeças laureadas por "chips". Aranhas elétricas, magnéticas, etéreas. Fôlego de uma sociedade asmática, caótica, que produz tecnologia pra conduzir tecnologia, que a conduza enfim. A "velha" sociedade industrial, ainda novidade em tantos cantos do planeta que não importam, foi decretado: - Chegou ao fim! "Morte súbita!", para os que vivem do arado ou da fome. "Já foi tarde!", para os novos intelectuais da informação aracnídea. A humanidade em crise produz a complexidade e apressa- se. Cria máquinas de pensar, novas sistemáticas, outros organogramas, modelos recentes de organização (vertical, horizontal, longitudianl, piramidal, tridimensional...) e concebe a sociedade geométrica. Mudam-se as máquinas, os equipamentos, mas a humanidade das coisas permanece com seus irreparáveis defeitos de fábrica: a imprevisão, a angústia, a dúvida, o medo e a dor iminentes. A sociedade informacional lobotomiza. O homem se informa, informatiza, estuda, conecta-se, reduz o tempo em partículas eletrônicas, não perde tempo, nunca. Fuma mais, dorme pouco, dirige seu carro do ano e fala ao telefone celular, o último modelo (duzentasetrintaesete músicas, incluindo a nona sinfonia; trezentasetrintaesete jogos multimídia, calculadora e teto solar), enquanto consulta a cotação do dólar pelo "notebook", vai para a cama com a "web" e goza com as últimas novidades. Mas o que muda realmente? O homem perde-se nas viagens da rede, prende-se nas teias e já não se reconhece - deletou a essência. A "sociedade que lava mais branco" não apaga as manchas de uma existência precoce, imatura, de sensações demasiado imediatas para alcançar profundidade. Quer ser global desde a infância. Quando se criou a indústria, descobriu-se que as coisas morrem rápido. A sociedade informacional criou a cibernética e quer a eternidade. Somos a próxima geração "Wolly" - louros,altos, siliconados, com órgãos-reserva, sósias infláveis para sa reuniões de condomínio, "memória-rã", visão raio-x e "no break". E os homens seguem correndo para longe de si mesmos, congelam as almas em tubos de ensaio (para a posteridade!), tornando-se presas fáceis das respostas rápidas, do espetáculo, dos letreiros, da frívola sedução das etiquetas e dos rótulos - quase suicídas. São os mesmos homens de sempre, procurando novas chamas e outros deuses, temendo o tempo e, ainda mais vorazmente, o fim de seus tempos.