RESPOSTA FEMININA

por Veronica Nunes

veronica.nn@uol.com.br

Um reflexo de sociedade machista: todo homem acha que aquela mulher que só lhe deu um simples "ÔI", já está louca pra lhe dar muito mais. Não sei o que acontece, mas é assim que todos pensam, se tiverem bebido, então, aí sim, são os comedores do pedaço! Não sei se é fantasia ou complexo mesmo, mas tem muito cara por aí que é o maior tarado, deliberadamente tarado. O pior deste tipo de homem é que eles são avantajados, mas não se iludam porque não falo do tamanho de seus órgãos genitais, mas sim do número incontável de mãos que eles possuem. Quando a gente pensa que já se livrou de uma, vem outra por trás e, de repente, outra na frente! E ainda tem aquela que ataca pelo meio, que ninguém sabe exatamente de onde vem.

Sei que existem diversas razões para esta atual realidade, razões as quais os homens usam como desculpa para este tipo de atitude. Sei que os pais insistem desde pequeno para que seus rebentos do sexo masculino fiquem contando vantagem das menininhas de sua idade e que, se o garoto até mais ou menos uns quinze anos não tiver tido sua primeira experiência sexual (e contado para todo mundo) é porque ele tem algum "problema". Eu sei, isso é muito comum. Mas não se enganem, isso está longe de ser normal.

O preconceito é velho conhecido das mulheres, e embora todos digam que ele não mais vigora, muitas de nós sabemos que isso, infelizmente não é verdade. Nós conquistamos muitos espaços na sociedade, atuamos em áreas profissionais que anteriormente eram exclusividade masculina, temos direito ao voto e também de não encarar o casamento como profissão. Inclusive podemos tanto casar como não casar ou ainda melhor, casar e depois separar, sendo tudo encarado de forma muito normal. Mas não estamos tão evoluídos assim.

A mulher que sai sozinha está louca pra dar; a que sai com as amigas está caçando; se sair com o namorado, um dos dois é corno; sair só com os amigos homens então... aí sim a coisa complica. Corremos o risco de ficar falando sozinhas quando a primeira mulher de saia curta passar por nós, ou ficar ouvindo sobre futebol boa parte da noite e se tentarmos dar um palpite sequer, temos que agüentar aquele semblante dos demais companheiros, tipo: "hããã, sei...", como se não pudéssemos gostar e entender do assunto. Tem um outro lado negativo em sair com os amigos do sexo oposto, que é o fato de nenhum outro homem se aproximar por ter a idéia idiota de que ‘os caras’ podem não ser receptivos.

Aqui em Porto Alegre, um grupo de mulheres que sofrem muito preconceito, é as denominadas "osvaldeiras". O que mais me aflige é que talvez eu faça parte deste grupo tão seleto. Sim, eu freqüento a Osvaldo, e daí? Vou ter que por um crachá escrito: "se afastem, eu freqüento a Osvaldo Aranha!". Claro que eu não sou assídua neste local, mas já fui, quando era mais nova e não vejo o porquê desta discriminação (exceto por alguns casos isolados).

Bom, mas o que eu queria dizer é que só porque você usa uma determinada roupa ou vai a certos lugares e fala de certa maneira, isso não pode ser um motivo de rótulo, tanto para homens como para as mulheres! E depois, dá quem quiser dá, come quem quiser comer, mas não fica achando que está todo mundo no mesmo barco, porque não é bem assim. E só porque uma mulher aceitou dar uma volta com você pra fumar unzinho, isso não quer dizer que ela vai dar uma volta até sua casa ou até o mato mais próximo.

Outra coisa bastante irritante nos homens é que eles se excitam muito rápido e, às vezes, por muito pouco também, aí dizem que a gente é que faz corpo mole na hora H, mas nós não temos culpa se o outro corpo é que está duro na hora errada.

Uma vez eu ouvi num programa de comédia na TV que a melhor maneira da mulher se manter virgem era sendo bem vagabunda, e se formos pensar, é bem por aí.

Agora que já expus a minha revolta, me sinto mais aliviada. Sei que muitas mulheres até que pedem determinadas atitudes masculinas e que muitas até ficariam revoltadas com o meu comentário, mas fazer o quê. Antes também que algum homem se revolte contra minha pessoa, tenho que dizer que também sou contra as generalizações, então afirmo ter consciência de que não são TODOS que agem desta maneira. Apenas uns 99%, até mesmo porque acredito que os monges tibetanos ainda não tenham chegado a este nível.