MINHAS FÉRIAS
 

Jorge Furtado

 

GOVERNO FH

Os ministros José Serra e Paulo Renato já garantiram várias aparições extras na televisão este ano, sempre em rede nacional, em campanhas de vacinação e de boas vindas aos estudantes. O melhor da democracia é isso: quanto mais perto das eleições, mais vacinas e mais vagas na escola. Cuide apenas para não pegar febre amarela no primeiro ano de qualquer governo.
 

NEPOTISMO

O combate ao nepotismo continua unindo o Brasil, da direita mais folclórica à esquerda idem, passando por gente séria com Zuenir Ventura. Li atentamente o artigo dele na Época (“E o PT, quem diria, às voltas com o "nepetismo", Veja, 7/2/2001) procurando um argumento que parasse em pé na defesa da tal lei anti-nepotismo. Não encontrei. A defesa mais bem intencionada da lei diz que ela serve para “coibir excessos”, o que me parece tarefa para o bom senso e não para uma lei. A função de uma lei deveria ser proibir aquilo que é imoral sempre e não as vezes. Ou existem leis que proíbem bater “muito” na mãe ou enganar “demais” ao imposto de renda? Não sei se o assunto já andou pelo STF, gostaria de ler a defesa séria de uma lei que permite contratar a namorada ou o vizinho de praia mas proíbe contratar esposas ou sobrinhos. O PT embarcou nesse moralismo de vitrine e corre o risco de perder ótimos profissionais.
 

POSTERIÉUR PLONGÉE

Um programa na Rede TV procura popozudas em piscinas de São Paulo, de helicóptero. As moças, bem ensaiadas e pouco vestidas, falam com o piloto por celular enquanto rebolam seus últimos - eu espero – sucessos musicais. É este o novo patamar do telejornalismo brasileiro: filmar bunda de helicóptero.
 

ERÍSTICA

Olavo de Carvalho, que traduziu e comenta a Dialética Erística de Arthur Schopenhauer (“Como vencer um debate sem precisar ter razão”, Topbooks) utilizou quase todos os trinta e oito estratagemas dialéticos para falar mal do Fórum Social Mundial . Diz que “os participantes [do Fórum] querem fazer tudo com os métodos econômicos de Cuba, do Vietnã e da Coréia do Norte.” (...) “No futuro Brasil socialista quando estivermos disputando a tapa uma perna de rato, Olívio Dutra, exibindo indignado uma lata de Coca-Cola vazia, dirá que é tudo culpa da maldita Ford que o deixou na mão quando ele mais precisava dela”. Ampliação indevida, uso intencional de premissa falsa, salto indutivo, fuga do específico para o universal, rótulo odioso, raiva, exagero, desvio, está tudo lá. (“O rock do brasileiro doido”, revista Época, 5/2/2001) A síntese (ilustrada) de seu artigo na Época era o Olívio tomando Coca-Cola numa cuia de chimarrão. Ouvi argumento mais sólido contra o Fórum de um motorista de táxi: “Esse pessoal é bom de conversa. Quero ver se vai fazer diferença na minha geladeira”. A mídia, que passou o tempo inteiro seguindo, fotografando e filmando o Bové, chegou à conclusão de que ele teve muito destaque na mídia. Quem não percebeu a importância da reunião de dez mil pessoas dispostas a repensar os rumos do desenvolvimento é mulher do padre. Ou FHC.
 

VST (VENEZIANOS SEM-TERRA)

Os artigos do Diogo Mainardi (leitor do Não como Olavo de Carvalho) estão cada vez mais engraçados.  Em “Cultura é um desperdício” (Veja, 7/2/2001) ele sugere aos novos prefeitos que cortem as leis municipais de incentivo à cultura. Seu texto termina com a seguinte frase: “Entre usar dinheiro público para financiar uma obra de arte e deixá-lo para ser surrupiado por um político ladrão, é menos danoso, culturalmente, deixá-lo para o político ladrão”. Claro que pérolas como esta alcançam rapidamente seu objetivo, o de provocar uma enxurrada de cartas indignadas. São como os fechos de ouro dos sonetos parnasianos, tudo se justifica para atingi-los. Mario Quintana brincou com o esforço dos poetas e sugeriu a frase final para um soneto: “de uns verdes buritis, a cismadora tribo”. Quem quiser que invente o resto. Alguns exemplos da arte de Mainardi:
“A América Latina é uma miséria porque os países ricos nunca se interessaram em nos explorar.“
“Salas cinematográficas, se tudo correr bem, tendem a desaparecer.“
“O problema é que nosso futebol é péssimo. Esporte não é conosco. Um dia, quem sabe, seremos páreo para os argentinos”.
 

TÁ DOMINADO

As letras não são mais pornográficas do que as que normalmente tocam no programa da Xuxa e a reação contra os bailes é puro racismo. Mas os novos sucessos do funk brasileiro são para retardados mentais ou crianças de colo. Prefiro o barulho do caminhão de lixo.
 

GO MARINES!

Um dos itens obrigatórios do credo da esquerda sempre foi “a autodeterminação dos povos”. Faz sentido. Se os ingleses querem dividir o metro em oito e meio e andar na contra-mão, se os americanos querem ouvir Celine Dion e se os japoneses freqüentam lojas que vendem unhas de adolescentes, bem, cada um com seus pobrema. Mas eu apoiaria incondicionalmente uma força-tarefa conjunta dos americanos e da OTAN para invadir o Afeganistão, derrubar o governo, prender e julgar aqueles débeis mentais que mandaram destruir as estátuas de Buda. Esculpidas no século cinco, as estátuas sobreviveram a mil e quinhentos anos de guerras constantes mas não sobreviveram à criminosa mistura de poder político, religião, dinamite e repressão sexual. A destruição foi supervisionada pelo ministro da Promoção da Virtude e Prevenção dos Vícios do governo Taleban, um sujeito que usa vestido preto no sol e deve ser amante de uma cabrita. Que Alá amaldiçoe seus filhos e os filhos de seus filhos. Que suas filhas e netas nasçam com bigodes. Que suas unhas encravem, seus dentes caiam e, antes que eu me me esqueça, que ele vá pra puta que o pariu.