A importância de Rocky Balboa na minha formação cultural

Daniel Peccini
 
 
 

Ir ao cinema é uma das coisas mais simples que o ser humano pode fazer.  Basta sair de casa, dirigir-se até o cinema, comprar ingresso, pipoca, balas ou qualquer coisa parecida, sentar na poltrona e aproveitar o filme em paz. É um esporte coletivo, encontra-se outras pessoas, as vezes conhecidas, e o máximo de força que somos obrigados a fazer é cumprimentá-las. Chega a ser entediante, é um programa totalmente ameno.

Nem sempre foi assim. Nunca esquecerei o dia que fui assistir Rocky 3. Já faz um certo tempinho, inclusive naquela época os cinemas não eram em shoppings centers como os de hoje. As filas davam voltas no quarteirão, compostas quase que exclusivamente por homens com cara de mau. Com medo de não conseguir ingresso, furei a fila e entrei no cinema, praticamente lotado, com uma platéia agitada. As coisas não estavam normais.

Cluber Lang era o lutador malvado que queria bater no Rocky. As coisas começaram a esquentar quando ele desafiou o garanhão italiano, provocando a ira de algumas pessoas que começaram a vaiar. Pronto, estava preparada uma cena emocionante que só o cinema poderia proporcionar. Convenhamos, as lutas do Rocky eram muito melhores que qualquer luta de boxe na vida real.  O personagem apanha até não poder mais e, de repente, começa uma reação milagrosa. Isso sem falar na sua mulher chorona (emotiva na medida certa), do treinador ranzinza e do cunhado bebado, usado para apimentar a história.  Isso sim que é emocionante.

A platéia também achou, pois começou a gritar freneticamente:

ROCKY! ROCKY! ROCKY! ROCKY! ROCKY! ROCKY! ROCKY!

Rocky vencia as lutas e era ovacionado dentro do cinema, já Cluber Lang recebia uma vaia tremenda.

O circo estava montado no cinema. Ainda bem que no final Rocky sempre vencia e todos iriam sair felizes do cinema. Fiquei mais calmo, pois um final diferente poderia provocar um tumulto e alguem sair ferido.

Antes da luta final entre Rocky e Cluber Lang, o filme ainda guardaria fortes emoções. O treinador de Rocky, aquele velinho ranzinza, morre. Todos no cinema, visivelmente abatidos e alguns chorando, fazem um minuto de silêncio em homenagem póstuma.

Quando chega o ápice do filme, a luta final entre Rocky e Cluber Lang, ninguem se segura mais. O apresentador da luta sabe como contagiar o público (no cinema):

No canto direito, o garanhão italiano: ROOOOOOOOCKY BAAAAAAAALBOOOOOA!

Não consigo escutar mais nada, devido ao barulho da torcida, ou melhor, da platéia.

Estavam todos de pé dentro do cinema gritando o nome de Rocky Balboa sem parar. A cada soco disparado, todos vibravam como se fosse um gol, dando socos no ar e se esquivando. Mas sabe como são as lutas do Rocky, né? Ele apanha uns 10 Rounds até começar a bater. A emoção era realmente forte, eu me sentia numa luta de verdade.

Finalmente, quando Rocky derruba Cluber Lang, o cinema vem abaixo. A estas alturas já tinha gente pulando sobre as cadeiras, várias pessoas se abraçando e comemorando o título de campeão mundial de boxe. Foi um espetáculo em que todos saíram felizes com seu ídolo.

A partir daquele dia me desinteressei completamente por qualquer tipo de luta e virei um fanático por cinema. As lutas de todas as espécies continuam muito chatas e ir ao cinema continua sendo um programa muito simples e (as vezes) zen.