PALPITES FURADOS E SENTIMENTOS MISTURADOS 1:
TARSO AQUI

Giba Assis Brasil
giba@portoweb.com.br


para Paulo Cezar da Rosa 19/03/2002

Vou votar no Tarso, vou manifestar o meu apoio, vou participar de comícios (coisa que eu não faço há 10 anos, porque eu sempre tinha que estar editando o material pra botar no ar no dia seguinte), vou levar meus filhos pros bandeiraços, vou dar palpite, vou xingar o cara que editar os programas, pode contar comigo pra tudo isso. Mas vou dormir 6 horas por dia, 8 aos domingos, e vou continuar fazendo os nossos filmes, num ritmo mais adequado a um trabalhador de meia idade.
 

para Werner Schünemann 08/07/2002

Num programa eleitoral do PT na campanha de 94, associou-se o nome do ex-ministro da previdência Antônio Britto a atos de corrupção eventualmente cometidos no Ministério. Os responsáveis pela campanha foram acusados de crime eleitoral e, até onde eu sei, condenados. Este fato deve ter sido citado mais de 50 vezes na coluna do Barrionuevo (aquele que o teu pai diz que faz campanha pro PT). Pra quem leu, os dois acusados tornaram-se criminosos. Seis anos depois, jornalistas da RBS (entre eles o próprio Barrionuevo) associam o nome do Governador do Estado Olívio Dutra a um crime. Há um processo judicial e os jornalistas são, preliminarmente, condenados. No primeiro caso, "um homem público ofendido buscou reparação na justiça". No segundo caso, "o governo persegue jornalistas". Dá pra levar a sério?
 

para Katia Suman 03/08/2002

Acho que o nosso trabalho, na Casa de Cinema, em campanhas políticas, já deu o que tinha que dar. Tinha ficado muito chato, muito repetitivo, cansativo demais, pouco prazeroso. Quem tá fazendo a campanha de TV agora é a TGD, com o Gerbase de coordenador e uma gurizada nova (Gustavo Spolidoro, Rafael Figueiredo) na direção. Vai dar certo, o Britto não engana mais ninguém.
 

para Leopoldo Plentz 06/08/2002

Acho que foi duro mas a gente aprendeu: um partido é uma construção humana, portanto sujeita aos mesmos erros de qualquer construção humana. É só crescer um pouquinho que já aparece isso tudo: alguns despreparados, outros pretensiosos, um que outro de caráter duvidoso e até os legítimos picaretas. É só ficar um pouquinho no poder que a sua lógica de funcionamento já passa a ser muito parecida com a dos outros. Mas, não tenho dúvida, o PT ainda é, de longe, a melhor opção que nós temos. E, quando deixar de ser, a gente tem independência e história pra dizer isso. Ou não?
 

para Gustavo Fernandez 30/09/2002

Já a subida do Rigotto não deixa de ter uma contrapartida interessante, que é o fato de o Britto ir de uma vez fazer companhia ao seu mestre Tancredo Neves.
 

para Geraldo Machado 07/10/2002

Você diz que "Rigotto arrasou e no segundo turno será um grande massacre, sem apelação." Pode até ser, não tem problema. O bom da democracia é que nenhuma eleição é definitiva. Só queria te lembrar que ainda faltam três semanas pro segundo turno e que, três semanas atrás, o super-Britto era o campeão incontestável das pesquisas.

Você também diz que "o mais importante era Lula não ganhar no primeiro turno, porque aí ia ser dose agüentar o barulho." Pois é, esse é o grande problema da democracia, né? Muitas vezes a gente tem que agüentar o barulho. Millôr Fernandes já escreveu que "democracia é o sagrado direito de gritar gol do Vasco no meio da torcida do Flamengo." Ruim mesmo é quando não se tem esse direito. Não sei qual é a tua idade, mas eu ainda lembro perfeitamente de um longo período (toda a minha infância e adolescência, e parte da juventude) em que eu era obrigado a agüentar o barulho (e às vezes o silêncio) de um bando de gente (essa sim) autoritária, que se dizia dona do país sem ter sido votada por ninguém - e ai de quem gritasse gol! Mas não tem problema porque eu acredito mesmo que esse tempo não volta mais - e, ao contrário do que diz a RBS, o PT é uma das garantias de que esse tempo não volta mais.
 

para Marcelo Carneiro 17/10/2002

Estou na cidade, acho, mas não disponível pra coisa nenhuma, já que terminei sendo chamado pelo "serviço militar obrigatório". Lembra que eu disse que nunca mais ia fazer campanha política na TV, que eu não tinha mais idade ou saúde pra isso? Pois é. A partir do dia 27, espero estar vivo e razoavelmente disponível.
 

para Guilherme Castro 15/10/2002

Guilherme, minhas angústias são parecidas. Mas eu sou só o montador, um deles. O comando da campanha está com muitos receios, talvez pelos resultados de pesquisas qualitativas que tendem a dizer que "quem bate, perde", e sem conseguir enxergar como esclarecer a verdadeira natureza do adversário sem parecer que o "coitadinho" está sendo agredido pelos "petistas raivosos". Acho que nós estamos num dilema, que tem a ver com a história do PT, suas qualidades e defeitos, o caminho escolhido pela coordenação de campanha do Lula e mesmo as atitudes do governo Olívio nesses três anos e meio. Veja, nenhum desses aspectos é, em si, positivo ou negativo, mas eles apontam tendências, e elas nem sempre nos são favoráveis. Como equacionar tudo isso? Sei lá. A mim, cabe (e só por duas semanas) transformar o que a coordenação decide, a redação redige e a direção executa em tempos, ritmos, climas, frescuras de linguagem. Claro que isso não me impede de dar palpites, ou de passar adiante impressões que me chegam. Até porque a coordenação da campanha continua sendo do PT, portanto permeável a tudo o que o PT construiu como diálogo com a militância, os movimentos sociais e a sociedade em si. Mas será que tudo isso chega a tempo?
 

para Oscar Simch 26/10/2002

"Informação confiável sobre a última pesquisa CEPA?" Informação confiável mesmo só vamos ter amanhã. Mas eu não estou nem um pouco otimista com a eleição daqui. Segundo turno existe pra se fazerem alianças, pra se ampliar a base de apoio. O PT daqui não conseguiu fazer nada disso, ficou restrito aos mesmos apoiadores do primeiro turno, o que é muito pouco pra ganhar a eleição. O antipetismo cresceu muito no estado, e nós não soubemos lidar com isso. Ainda temos que entender por que isso aconteceu, em vez de ficarmos culpando as pesquisas ou a RBS. Mas é claro que isso não nos impede de tentar virar alguns votos na última hora, e quem sabe surpreender. E, de qualquer jeito, comemorar a vitória do Lula, que vai começar a mudar esse país.
 

para Sérgio Napp 26/10/2002

Sempre gostei de votos explícitos, e o teu é perfeitamente coerente e justificável. Eu vou votar no Tarso por motivos que transcendem a política cultural, mas acho que tu tens toda a razão em defender o teu voto, e justificá-lo dessa forma. E tomara que o novo governador traga, pra trabalhar com ele na área da cultura, pessoas capazes, corentes, íntegras e com passado como tu.
 

para Clarisse Rath 31/10/2002

Somando e diminuindo, o governo Olívio foi sem dúvida o melhor que esse estado já teve (imagino que isso vai ficar mais claro daqui a alguns anos), mas isso é pouco. Os erros em alguns setores foram suficientes pra embananar o resto. Muita gente fala de erros na área de comunicação: o governo não conseguiu passar pra população o que estava fazendo de bom, entrou numa guerra idiota (ainda que justificada) contra a RBS e não soube se fazer ouvir. Mas pra mim o erro mais grave foi na área parlamentar: o governo achou que poderia governar sem o Legislativo, não fez qualquer esforço para construir uma maioria na Assembléia e, pelo contrário, assim que foi eleito desfez a aliança com o PDT que tinha sido fundamental pra vitória. Por causa disso, terminou sendo criada uma CPI imbecil, em que alguns deputados canalhas e outros até razoáveis se juntaram com a escória da polícia estadual (e a RBS, claro) pra produzir manchetes tolas acusando o Olívio e todo o secretariado de receber dinheiro do jogo do bicho, uma bobagem sem tamanho, mas que fez volume no noticiário. A imagem que ficou foi a de um governo omisso na segurança e conivente com a corrupção.
 

para Milton do Prado 01/11/2002

Acho que o petismo bateu no teto. Pode ser pura projeção minha, mas tenho a impressão de que militância não empolga mais ninguém. Bandeira na rua, estrela no peito, orgulho petista, já conquistaram todos os votos que poderiam conquistar, e hoje só geram rejeição, antipetismo cada vez maior. Programa de TV pra militância (ainda que com a justificativa de que "só quem vê o programa de TV são os militantes"), cheio de bandeiras, de "nossa paixão constrói um mundo novo", "nossa estrela continua brilhando" e outros exemplos de má poesia, só faz perder voto.

Assim como o petismo de TV (responsabilidade, em parte, nossa) era e é um fenômeno muito menos ideológico que simbólico, a rejeição antipetista também é mais simbólica que ideológica. As pessoas votaram no Rigotto não porque "não tiveram tempo para perceber que ele era um candidato vazio" mas, pelo contrário, porque, no tempo que tiveram, puderam perceber que seu "vazio" era o oposto perfeito dos petistas "cheios" - cheios de significados, cheios de propostas para um mundo melhor, cheios de si.

Antes a tal da militância era um fenômeno apenas petista. Depois surgiram os "militantes de aluguel", o contraponto "profissional" ao "amadorismo" petista. Em seguida, deu pra ver que alguns antipetistas, minoria entre os "mercenários", eram tão sinceros (e ideológicos?) em seus objetivos antipetistas quanto seus contrários, e, por isso mesmo, procuravam fazer tudo ao contrário deles. Agora o fenômeno é outro: os militantes antipetistas imitam os militantes petistas em tudo - nas bandeiras, nos uniformes, na sinceridade. A tal ponto que a própria idéia de militância se esvaziou.

Militância é, ou era, a disposição para, sem remuneração, ir pra rua distribuir panfleto, cantar jingle, sacudir bandeira e mostrar a sua alegria por estar ali fazendo aquilo tudo sem remuneração, e escancarar pra todo mundo que se está ali sem remuneração, apenas porque se acredita. Em quê? No panfleto, no jingle, na bandeira? Na falta de remuneração? Ou no que o partido, representado pelo panfleto, jingle, bandeira, é capaz de fazer pra mudar esse mundo injusto em que a gente precisa ir pra rua sacudir bandeira, etc? Militância deixou de ser engajamento, passou a ser ostentação.

Chega de militância. Criemos a civilância. Que será outra coisa, até que os brittistas rigottistas antipetistas se apropriem dela. Mas que seja outra coisa. Chega de militância.
 

para Pedro Santos 12/11/2002

Assisti muito pouca coisa nessa campanha (primeiro turno), mas vi duas vezes a dupla Bigodão e Bigodinho e achei engraçadíssimo. Parabéns pelo trabalho e à puta que pariu com quem eventualmente queira te patrulhar por isso. Como petista, triste pela derrota, só posso dizer que, se o PT hoje tem medo do humor, então talvez estivesse mesmo na hora de perder.
 

para Ambile Rocha 13/11/2002

Falar em trágico, acho que tu soubeste do Utzig. De certa forma, foi uma perda bem maior que o governo local, porque definitiva, e sem compensações. E ainda me fez quebrar a promessa feita pra mim mesmo, de não trabalhar mais em programas eleitorais de TV - quebrei por duas semanas, só no segundo turno, mas promessa era promessa, deixou de ser.