Primeira Amante

 Maitê Proença

Eu gostaria de ser a mulher da primeira noite de um homem. A primeira amante. Hello Mrs. Robinson. Como estava  bárbara a Anne Bancroft naquele filme. E digna mesmo com cara de vem cá meu bem. O Dustin Hoffman já era  crescidinho. Acho que hoje, não há com aquela idade, rapazes que não tenham se iniciado no assunto. Então o meu garoto seria ainda mais garoto. Quase sem pelos, com a imaginação tomada por sexualidades. Um menino de sonhos molhados e a  boca seca, com medo. Seria pequeno. É uma tara? Sim, é, já que não me permitiria realizá-la. Vive na  minha cabeça. Parece perverso, falar assim em voz alta para o mundo ouvir. Parece devasso que isso more aqui dentro de um desejo reprimido. Ah se não fosse a Anne Bancroft com aqueles olhares esplendidamente perversos. E aquelas pausas  magníficas... com silêncios de alta voltagem. Dá pra ver os dois pensando - de um tudo. E há algo ali de muito terno ao mesmo tempo.

Mas veja bem, a coisa mesmo, preto no branco, me espanta. Com quem seria, que menino? Minhas amigas têm filhos dessa idade. Eu não olho pra eles pensando isso. Se acontecesse teria de me esconder atrás de um móvel, atrás de  uma cara besta. Que besta! Seria feio e meu desejo é quase bonito.

O meu menino é desconhecido. Eu o terei por um dia. Depois nunca mais. Ele não é magro nem gordo, alto ou baixo. É um menino  comum sem nada de especial além do fato de ser quieto. O momento é diferente de tudo. É melhor que tudo. Não existe tudo. Existe ele e eu. Ele quer que passe logo. Que aconteça alguma coisa. Que ele possa morder, pular, que eu o deixe gritar, que eu sufoque seus ímpetos nos meus peitos. Que deles saiam leite e que  ele mame até dormir.

E eu quero que ele se esvazie para encher-lhe os sentidos de hálitos e saliva, calor, vermelho, laranja, suor... Eu o levarei  para um lugar que há em cada um, onde a consciência se acalma e os sentidos afloram, bem devagar. Bem devagar como uma dança redonda, como o gosto de rapadura na infância. Com água na boca, naquele dia inteiro eu vou fazer caber tudo que não se aprende pensando. Bem devagar. Passo a passo, como se eu fosse uma mãe indo embora vou ensinar pro menino tudo que ainda não sei. Coisas de um amor sem vergonhas. Todas as coisas que só saberei quando ensinar pro meu menino, bem devagar.

Depois eu durmo.

E ele, feito homem, levanta e vai viver a vida.