UM DRINK PARA BUSH
por Jorge Furtado - 05/04/2003
 

A democracia pressupõe que a maioria deve escolher, entre os dispostos a aceitar o cargo e o salário, aquele que melhor representa suas idéias e sentimentos e tem mais capacidade para governar. A tese é cheia de furos. Quem está disposto a aceitar o cargo já é diferente da maioria, quase ninguém quer ser síndico. A tal maioria é composta apenas por cidadãos maiores de idade dispostos a sair de casa num feriado e entrar na fila. O julgamento prévio das qualidades do pretendente ao cargo é intermediado pela publicidade, que ano após ano aperfeiçoa seu poder de transformar água com corante em néctares afrodisíacos. E a real competência para governar só aparece mesmo quando o sujeito já está no poder, às vezes muitos anos depois de ele deixar o poder. Não é à toa que freqüentemente acabe em Fujimori. Como ninguém achou idéia melhor, a democracia continua, ainda bem. Pessoas e sociedades são imperfeitas e costumam eleger representantes imperfeitos. Os defeitos dos governantes variam muito e talvez sejam representativos dos defeitos predominantes de suas sociedades num determinado período. Há eleitos vaidosos como FHC e Koizumi, corruptos como Collor ou Menem, emocionais como Lula, incoerentes como Chirac, perigosos como Berlusconi, sabonetes como Blair, toscos como Hugo Chavez. Mas só um grande império, um país com uma economia tão poderosa, uma sociedade tão rica, fechada e dominada pela mídia como a americana poderia eleger um imbecil como George W. Bush.

Já em 1922, em seu livro Opinião Pública, o americano Walter Lippmann alertava para as dificuldades de construir uma democracia numa sociedade totalmente dominada pela mídia, onde a maioria da população "não se sustém por convicções e tradições e quer, e tem que ter, uma emoção atrás da outra".

Ele conclui: "Talvez este apetite sempre tenha estado presente, mas a nova máquina publicitária é peculiarmente adaptada a alimentá-lo. Ainda teremos de descobrir qual será o efeito sobre a moral, as religiões e o governo popular, quando assumir o controle a geração que teve suas principais experiências públicas sobre o clarão intermitente dessas sensações".

A terrível resposta é George W. Bush. Ele fugiu do alistamento militar durante a guerra do Vietnã quando era apenas mais um bêbado milionário (e estava certo!), mas é capaz de mandar jovens para a morte com a promessa de que serão recebidos de braços abertos ao invadir a casa alheia. Ele parece incapaz de encontrar o próprio nariz usando as duas mãos e um manual de instruções, mas comanda (ou finge que comanda) a mais poderosa máquina de guerra da história. Alcoólatra redimido por delírios religiosos, ele é burro, teimoso e vingativo como só um convertido pode ser. Ele não teve a maioria dos votos, mas, graças a um sistema eleitoral primitivo, se elegeu para destruir o que havia sobrado da mais antiga democracia do mundo.

Acredito que a América vai sobreviver a George W. Bush, mas sua democracia, em ruínas, terá que ser reconstruída. E isso vai levar muito tempo. Só há uma maneira rápida e pacífica de acabar com essa guerra: por favor, alguém sirva um gole de uísque para Bush, misture cachaça nos seus sucrilhos, ponha vodka em seu anapion. Um drink para Bush! Rápido!
 


Jorge Furtado jfurtado@portoweb.com.br. Publicado originalmente em Zero Hora dia 05/04/2003.