PROJETO HOLE IN THE WALL
UM PORTAL PARA A ESPERANÇA

por Ricardo Lisboa Pegorini
rlp@trf4.gov.br


Peguei na NET um "especial" muito bom (sorry, gente, mas nem me lembrei de pegar as referências do documentário) sobre um projeto que aconteceu na Índia em 1999 (procurei referências mais atualizadas na Internet, mas não encontrei), chamado "Hole in the Wall". É um daqueles exemplos de dedicação e idéia bem bolada que deixam a gente pensando se, em vez de ficar reclamando da vida, não seria melhor simplesmente arregaçar as mangas e ir à luta por um mundo menos cruel.

Trata-se de uma experiência baseada num conceito chamado LEDA (learning through exploration, discovery and adventure). Os pesquisadores, chefiados por um cara chamado Sugata Mitra, diretor de pesquisas na área educacional, fizeram um buraco num muro e colocaram neste buraco, virado para a rua, um monitor de vídeo com um dispositivo que funcionava como um mouse. Ligado ao monitor, claro, um computador conectado à Internet, já com a página do Altavista na tela. Veja como fizeram:

E esperaram.

Não divulgaram nada, não avisaram ninguém.

Apenas colocaram a rodar as câmeras e ficaram esperando.

Em alguns minutos, uma criança que passava na rua olhou aquele buraco e ficou curiosa. Chegou perto, olhou a tela do computador e continuou caminhando. Deu alguns passos, parou, olhou para trás, olhou para os lados e voltou para o buraco na parede. Menos de cinco minutos depois, o buraco estava cercado de crianças, todas olhando extremamente ansiosas para a tela no buraco.

Agora é que vem a parte interessante da experiência: os pesquisadores observaram que, nos primeiros momentos, o acesso ao buraco se estabelecia de acordo com uma hierarquia de força - as crianças maiores ou mais fortes é que conseguiam ficar melhor posicionadas para operar o micro (bem na frente do monitor e com as mãos segurando o "mouse"). Mas à medida que a experiência se desenvolvia, esta relação de poder foi se alterando. Depois de algum tempo, conseguiam ficar melhor posicionados à frente do micro as crianças que demonstravam saber manipular melhor o equipamento e conseguiam "fazer coisas" com aquela máquina no buraco. Isso se dava com o apoio da maioria das crianças que estavam participando (sem saber) da experiência, numa espécie de "eleição democrática baseada na domínio da técnica".

Esta experiência evoluiu para um estudo da cidadania conquistada com o emprego da tecnologia. Logo algumas destas crianças começaram a se destacar no uso do computador, e o passo seguinte foi dado quando estes meninos e meninas assumiram o papel de instrutores dos mais novos, ou menos experientes, no manejo do computador. Algumas foram contratadas por escolas técnicas para ministrar aulas de informática, outras seguiram seu caminho subdesenvolvido (voltaram para a miséria, por falta de estimulação ou porque o obscurantismo de certos pais negava o prosseguimento da participação destas crianças neste estudo). Lembro de uma imagem de uma "favela" mostrada no documentário, uma daquelas ruelas de meio metro de largura. Uma casa depauperada. Um casal, de uns quarenta anos cada um, olhando embasbacados a filha de seus dez anos olhando e manejando orgulhosa não uma televisão, mas um micro que para nós pareceria uma máquina de escrever de um filme de cinema mudo. E essa menina explicava, com uma articulação que faria corar de vergonha alguns de nossos professores universitários (por inveja, claro), que em breve obteria seu primeiro emprego graças ao conhecimento que adquirira praticando no computador, editando textos, calculando em planilhas e cadastrando registros em bancos de dados.

O certo é que eu fiquei francamente emocionado ao ver uma região de tanta pobreza, ignorância e falta de perspectivas vendo a balança mudar a seu favor, ao contrário de tudo o que se possa imaginar dentro do nosso academicismo e teorias sociológicas de exclusão dos marginalizados. Então eu digo: pare de reclamar.

Mãos à obra.


Sobre o projeto "Hole in the Wall": http://www.ncl.ac.uk/egwest/holeinthewall.html
Rede JovemPaz - experiência porto-alegrense do mesmo tipo: http://www6.ufrgs.br/leadcap/jovempaz2.php