OS PROFISSIONAIS
por Lulit
 
Estou com raiva dos profissionais. Deste inferno de especialização, que gerou seres com teses sobre os diferentes tamanhos dos buracos das agulhas de costura, tendo seus estudos pagos durante anos por governos incompetentes, e que colabora para a completa falta de visão humana da totalidade do universo. Por outro lado, se tu faz um curso de jornalismo, por exemplo, tu é capaz de sair da faculdade aprendendo um pouco de nada exatamente, especializado na maçaroca mental de informações defasadas.

Mesmo assim, se te perguntam o que tu é, como tu teve que passar pelo neurotizante vestibular, tu sempre responde: "Sou jornalista" . Mesmo que tu atue muito mais como cineasta, sem diploma, por exemplo, a ineficiente faculdade que foi tão difícil de entrar e tão fácil de sair, te berra mais alto. E o que sobra de um curso de jornalismo? A maravilhosa experiência de trabalhar com pessoas que não conseguem assimilar o sucesso daqueles sobre quem escrevem. O crítico que quer ser sujeito da ação retratada, o editor que de ficar tanto tempo na redação e receber tão mal, já perdeu a noção exata da realidade, ou um bando de novatos que fazem estágio a preço de vale refeição e pensam que sabem tudo.

Ah, mas o bom mesmo é ser cineasta. Depois de quinze dias de filmagem, todos mostram o seu lado humano, ou seja, o set transforma-se num zoológico. Os que estão longe das famílias, e não se agruparam com nenhum colega de profissão, começam a ficar necessitados ou de sexo, ou de carinho, ou com saudade da mãe, confirmando a teoria de que descendemos dos macacos. Mas o elo perdido são mesmo os atores. Como a produção não pode trocar de rosto, como seria possível trocar de técnico, aí está o momento para o ator mostrar todo o seu lado hipocondríaco. A cada dia, novos medicamentos são comprados com mais freqüência. Se chove, então, o problema se agrava, exceto para o pessoal da maconha. Mau humor, resfriado, prisão de ventre, comida em excesso (haja comida), e vai fita de videoclube para atenuar o problema.

Mas ainda é bem melhor que viver em meio aos médicos, pois é difícil achar, hoje em dia, algum médico que realmente tenha vocação para cuidar da saúde de alguém. É muito complicado distinguir um charlatão, mandado para a medicina pela família, possivelmente também com muitos médicos, de um cara que cure sem pensar primeiro no bolso do paciente ou na tabela do plano de saúde. Somado ao fato do sentimento dos anos de privações passados na universidade, o paciente parece ser a vítima que tem de ressarcir todo este prejuízo. Se tu pensar ainda no conchavo com laboratórios, fabricantes de antibióticos débeis, a coisa não pára mais.

Então é melhor passar para a advocacia, que é outra armadilha. Baseado no fato de que todo o cidadão tem direito à defesa (se for rico muito mais direito ainda), tudo é possível, nada é condenado. Ou seja em defesa da sociedade, ou do velho " establishment", os veredictos são cada vez mais relativos. Mas advogado, na pirâmide, ainda está acima do político, setor onde a ordem nunca teve governo. Como moscas varejeiras na luz do poder, dali ninguém quer sair. Bota ponte de safena, divorcia, mora em Brasília, vai num coquetel atrolhante por dia, mas não larga. Poder mexer com dinheiro dos outros, formando sua empresa particular, acobertando todo o tipo de corrupção, o poder sempre será, junto com dinheiro (do qual é amante), e do sexo (cada vez mais comprável), a alavanca do capitalismo cego e ignorante.

Podemos ainda entrar na economia que nunca sabe para onde vai e o que dizer. Teorias totalmente diversas, sobre determinado tema da atualidade, são apresentadas aos mortais nas declarações, sem o menor consenso, dos economistas.

Veterinários com medo de mordida de cachorro, dentistas com nojo de saliva, arquitetos que não sabem comprar tijolos, meteorologistas que não saem na chuva, e todos os outros que não vale a pena mencionar. E cada vez mais eu dou valor pro faz-tudo que sabe furar bem uma parede, fixa bem uma estante e ainda acha que o pagamento foi maior que seu esforço.