LUSITANA EXISTÊNCIA
 
por Makoonaima
de Los Angeles
 
Ao ler a primeira edição "internética" (para os puristas que, total e puritanamente, se recusam ao uso de termos não-portugueses: leia-se "entre-redística") do NAO-TIL... convenhamos, os caras que inventaram a linguagem de computador não dão a mínima sobre o "til" e os que hoje controlam o mercado da informação computadorizada, muito menos ainda. Se houver motivos compreensíveis para a criação de um movimento do tipo: "Unidos, TILaremos!", ou: "Até que o TIL nos separe", ou ainda: "O Fim está próximo! Junte-se à Assembléia do TIL", ou coisa parecida, contem comigo. Enquanto isso não acontece...

Compatriotas! Acordemo-nos! Aceitemos e festejemos a nossa portuguesice brasileirística mas jamais retrocedamos à portuguesice lusitanística! Independência ou MorTIL! ...

Mas como eu ia dizendo, ao ler o Não 53, constatei vários hiatos de comunicação e passei a me perguntar: "Por Quê Não?, Por Quê Não?, Por Quê Não?..." E ao repetir incessantemente essa expressão, percebi um ritmo intrínseco acontecendo, dentro e fora de mim, que gerava um ciclo hipnótico, que me controlava, me dirigia e me guiava na direção daquele som mágico de trem acelerando, acelerando, "Por Quê Não?, Por Quê Não?, Por Quê Não?...", rumo à velocidade da luz.

Meu corpo foi ficando cada vez mais leve, minhas pálpebras, cada vez mais pesadas. Quando me dei conta, me encontrei num estado de profunda meditação, como se o "Por Quê Não?" fosse um mantra hindu milenar com a capacidade encantatória de conduzir meu espírito para o Nirvana total. Dormindo-acordado, eu continuava procurando uma resposta. Uma torrente de imagens e sons iam e vinham pela minha cabeça. Me lembrei da Tropicália, daquela canção do Caetano, "Sem Lenço nem Documento", e também daquela outra do Tom Zé que diz: "é porque á e por cá, é porque é e por qué, é porque í e por quí, é porque ó e por có", e em meio a esse quiprocó, passei a murmurar: "eu sou a mosca que caiu na sua sopa, eu sou a mosca que vive a lhe azumbizar". "Por Quê Não?" continuava a me martelar até que, num "flash" (lampejo, para os puristas) de memória, me lembrei que o Giba adorava, isto é, idolatrava o Raul Seixas, e tinha TODOS os discos do dito, não faltava um.

Aí, as idéias começaram a se agrupar. E, na minha imaginação, comecei a vislumbrar, no meio de um Polo Norte inteiro de indagações, uma minúscula pontinha de um gigantesco "iceberg" (me desculpem os puristas mas, esta, vocês é que ficam me devendo) que lentamente flutuava na minha direção e deixava transparecer em seu interior uma figura móvel, viva, irreconhecível à distancia. No momento em que se tornou visível percebi, surpreso, incrédulo, com olhos esbugalhados, que o indecifrável não passava de um sinal luminoso de neon, que piscava-piscava e coloria o gelo cristalino com lindos tons de arco-íris. Meu coração passou a palpitar no mesmo ritmo daquele eterno pisca-piscar de cores vivas e brilhantes, que revelaram ante meus olhos as palavras:

A Essência do NÃO

Qual é afinal, a essência do Não?

(continua na próxima mensagem. Um abraço do Makoonaima. Los Angeles, 15/01/98)


Makoonaima nasceu João Carlos Junqueira, mas no Colégio de Aplicação virou Barê, por motivos que aqui não vêm ao caso. Já foi várias coisas, inclusive colaborador do Não (primeira fase) e fazendeiro em Mato Grosso. Hoje vive em Los Angeles, onde leciona música brasileira. Também não sabemos como ele virou Makoonaima por lá. Quem sabe ele esclarece?



P.S.: pouco antes de fecharmos esta edição, chegou às nossas mãos a segunda parte da matéria de Makoonaima para o Não 54, A ESSÊNCIA DO NÃO.
 
 
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