AMOR (em Brasília)
por Pataco

 

É um amor distante
cheio de saudades
do Rio Grande do Sul
 
É um amor febril
com tantas lembranças
que mais parece um delírio
 
É um amor abandonado
que ficou em Porto Alegre
minha cidade-natal
 
É um amor no exílio
gostoso e fecundo
pois te vejo em tudo por aqui
 
No imenso céu de anil de Brasília
eu enxergo o teu corpo
para admirar e me tranqüilizar
 
Nas largas vias e cruzamentos
eu vejo as artérias do teu enorme coração
cheio de bondade e infinitos carinhos
 
Nas super-quadras-e-praças
eu admiro a novidade e a mudança
e o tamanho do nosso amor
 
No eterno sol a brilhar por entre nuvens brancas
eu sinto o calor do teu corpo
e o ardor dos teus abraços
 
Na refeição com carne-de-sol ou pamonha
eu sinto o doce cheiro do teu perfume
e o gostoso sabor dos teus beijos
 
Nas visitas aos pontos turísticos da capital federal
eu imagino uma exploração
pelos teus monumentos, teus palácios e teu lago paranoá
 
No contraste entre o trânsito agitado
e o silêncio dos finais-de -semana
eu penso encostar a cabeça no teu peito e escutar as batidas do teu coração
 
Nas expressões e sotaques de todo o país
eu respiro uma rosa-dos-ventos
e mergulho na compreensão de tudo o que já aconteceu em nossas vidas
 
Na falta de calçadas e bancos de praça
eu sinto a importância de lutar contra a tristeza e a solidão
e entendo a força dos encontros
 
Nas rotatórias, tesourinhas e cruzamentos alternativos
eu entendo a racionalidade por trás dos nossos movimentos
e a paixão de duas almas-gêmeas independentes
 
No Plano Piloto e nas cidades-satélites
eu vivo o contraste entre a riqueza e a pobreza
eu vejo um mundo de aparências
uma arquitetura moderna
mas um mar de corrupção
um Brasil antigo
sem amor e sem planejamento
 
Mas eu também vejo a possibilidade da mudança e da inovação
e posso vislumbrar um novo Brasil
grande, forte e luminoso
assim como vejo o futuro do nosso amor
 
 
 
PATACO - 05/06/98