Manias de Infância
por Daniel Peccini Corrêa
 
 
Um assunto que me agrada falar e refletir sobre, com certeza é a infância. Não diria que adoro criança. Até que tenho uma certa paciência com elas, o fato é que eu gosto de lembrar da minha. Já ouvi gente dizer que as amizades feitas na infância são as mais verdadeiras e que duram para a vida toda. Pois lhes digo: as manias de infância também. Eu sou a prova viva disso.

De médico e louco todo mundo tem um pouco. De químico e cozinheiro toda criança também tem. Me lembro que nas horas em que minha mãe não estava em casa, eu zarpava para a cozinha e começava a inventar. A maioria das receitas resultava em sujeira, fome e tudo para o lixo. Mas até que um certo dia o deus dos cozinheiros resolveu me iluminar e me fez inventar uma iguaria que eu aprecio até hoje.

Pegue um copo grande, aqueles de 500 ml no mínimo. Coloque sucrilhos lá dentro até a metade. Depois coloque leite frio até cobrir o sucrilhos e complete com leite condensado por cima. Que beleza. Isso até tem nome: "The Daniel's Psychedelic Breakfast", uma homenagem clara ao Pink Floyd que tanto amo, mas minha mãe prefere chamar a coisa de "massaroca". Acho que vou comer este troço até morrer ou enquanto existir sucrilhos.

Mudando radicalmente de mania. Sinceramente não tenho idéia de qundo isso começou mas faz muito tempo. Era o programa "Clube da criança" que a Xuxa apresentava o meu programa favorito. Passava Dartagnan e Pirata do Espaço, meus 2 desenhos preferidos. Nos intervalos dos desenhos a Xuxa fazia umas brincadeiras bobas e uma delas era perguntar quantas letras tinham uma certa frase. Quem respondesse primeiro ganhava o prêmio. Eu começei a treinar em casa. Usava minha barriga ou uma mesa para, com meus dedos da mão direita apoiados sobre, contar quantas letras tinha as frases. Fiquei muito rápido e passei a praticar o tempo todo. Era só avistar uma placa de propaganda ou alguma coisa escrita que e já saía contando quantas letras tinha. Tudo isso usando os dedos das mãos apoiados sobre alguma superfície como se estivesse tocando piano.

Com o passar dos anos eu parei de contar as letras mas continuei dedilhando as minhas mãos entre as frases. Isso se espalhou para figuras geométricas também. Se avistava um quadrado ou um triângulo ou vários deles, partia para a mania imediatamente sendo que cada lado do polígono tem o mesmo significado de uma letra de uma palavra.

Hoje em dia faço isso sem perceber. Quando percebo já estou com uma frase ou uma figura na cabeça. É uma mania de infãncia que não passou. Psicólogos devem explicar algo a respeito, enquanto isso eu vou vivendo dentro deste mundo que às vezes insiste em voltar como um filme novo que já passou.
 
 
Daniel Peccini Corrêa
laranja@poa.matrix.com.br
 


Saiba para quem foi escrito o "Alan's Psychedelic Breakfast" do Pink Floyd em http://www.ingsoc.com/waters/atom/alans.html. E descubra a utilidade prática de contar o número de letras de um texto em "In search of mathematical miracles", matriz do "código da Bíblia" de Michael Drosnin, no endereço http://cs.anu.edu.au/~bdm/dilugim/index.html. Depois, se ainda tiver fôlego, volte para o...