NÃO SE FAZ REVOLUÇÃO COM BREGANEJO

Por Dioclécio Luz

          Vamos por partes: o Brasil virou Tiazinha. Somos uma fantasia, um desejo, mas não somos nada. O Brasil também é os pagodeiros e os breganejos (que alguns chamam de sertanejos/country) – somos o inútil, o tempo doce do entretenimento, açúcar e chantily, uma disenteria geral. Cultura? Somos a TV Globo que determinou nossa idade falsa, nossos falsos ídolos, nosso falsos mestres, nossos falsos presidentes, nossas falsas realidades.

          O que resta para ler, ouvir, guardar e ruminar no bucho da emoção? Ora, os mesmos donos do poder, a mesma elite nacional e internacional está dizendo ao povo o que ele deve escutar nas rádios, ou se deslumbrar nos cinemas e TVs. É a mesma tropa de malfeitores, o mesmo interesse vampiresco. Mas se não há diferença, então por que esta indiferença das esquerdas para a cultura? Ninguém diz: fora ladrões, bandidos, patifes, piratas! E os artistas consagrados? Cadê Caetano Gil, Milton, Gal Costa? Por que eles – que já são ricos e famosos, e têm um nome na história da música brasileira – quando entrevistados não dizem que isso que rola aí nas rádios e TVs é uma bosta?

          O fenômeno da mediocrização da cultura resulta da globalização desenfreada. Já não se fala em arte e cultura, fala-se em entretenimento. Não por acaso a Walt Disney se tornou a maior empresa do ramo no mundo. Somos todos uns patetas.

          E o que faz a grande imprensa diante dessa erosão cultural, desse desvirtuamento de conceito promovido pella nova ordem mundial? Ora, adequa-se. Akém do compromisso com os grandes capitais, encarrega-se de promover a burrice. Uma burrice camuflada como inteligência. Exemplos? Centenas Os mais recentes. Veja, Isto é, e todos os grandes jornais brasileiros abrem suas pernas para a venda do filme Stars wars. imprensa burra já não comenta cultura, mas, produtos de mercado: tal filme ou disco custou tantos trilhões, e já vendeu tantos zilhões.

          Será que ninguém percebeu a influência disto tudo sobre o povo brasileiro? Será que ninguém percebeu que o american way of life é diariamente introjetado no cerne do povo brasileiro? Será que ninguém percebeu que a cultura americana está substituindo a nossa? Que no Goiás, Minas e interior de São Paulo o povo está se fantasiando de cowboy, e vai a festa country sem saber a diferença entre dog e cat mas se achando o máximo? Será que é possível fazer uma revolução, como pretende o Partido dos Trabalhadores, com gente que cultiva uma arte desencantada, fora da nacionalidade? O que cantaremos na hora de festejar a conquista do Governo Federal Democrático e Popular: "entre tapas e beijos"?... Ou, "é o amor"? Ou outro breganejo qualquer? Talvez a música de um desses grupos de pagode – todos bonitinhos, arrumadinhos, jeitosinhos, igualzinhos, com musiquinhas fuleirinhas e as vozinhas mixuriquinhas...

          O que deve ficar bem claro é que a cultura determina a determinação de um povo. Por interesse da indústria cultural o conceito de arte e cultura estão sendo malignamente substituídas pelo produto cultural que ela impõe. E esta cultura visa objetivamente a alienação (eles chamam "entretenimento"). Com o monopólio nas mãos da elite se promove a fragmentação da nação e o estabelecimento de um pensamento único, que é de consumo e não de cidadania. Insistindo: se o PT quer fazer uma revolução, uma mudança na sociedade, tem que pensar nisso: que hoje o povo está sendo encaminhado via entretenimento para a alienação. Ou alguém conta com Xuxa para mudar o país? Ou com o padre Marcelo Rossi? Ou Chitãozinho e Xororó? Enquanto mito cultural eles orientam o consumo material e emocional do povo, e para o pior que existe – esta é a tragédia.

          Não se faz revolução enquanto a trilha sonora do país se limitar à bunda music (a cara de ACM), às duplas sertanejas (cuja única relação com o campo é cantarem como galinhas chocas), o forró mastruz com leite (que provoca nó nas tripas) e os pagodeiros (clones deles mesmos que se acham cantores). Cabe ao PT atuar para que se revele a boa arte nacional – que existe, mas está oculta por interesse da mesma elite parceira do Governo FHC.