Ziraldo na Hebe

Por Paulo Polzonoff Jr.

          A Revista BUNDAS foi lançada com estrodoso sucesso. As duas edições da revista se esgotaram no mesmo dia, sendo que a edição teve uma tiragem 20% maior do que a primeira. Os leitores com quem conversei estavam extasiados com os editoriais do Veríssimo. Todos, sem exceção, concordavam que o Brasil estava mesmo precisando de uma grande publicação de oposição.

          No entanto o lançamento de BUNDAS teve seu lado negro na última segunda-feira. Ziraldo, editor da revista ao lado de Jaguar, estava na Hebe. Não sei o que falou: mudei de canal. Mas a simples presença de uma pessoa auto-intitulada iconoclasta desta merda emergente que assola o país num programa que representa toda a cafonice e mediocridade da nossa elite, serviu para que se fizesse algumas considerações a respeito de nossa intelligentsia.

          Não estamos a salvo em nenhum lugar. A presença de Ziraldo na Hebe nos mostra que, por mais que se procure nichos seguros onde a inteligência e a individualidade possam viver em paz (o que é uma contradição em si, bem sei, porque inteligência e individualidade só existem em condições de conflito espiritual), não há um só ser humano capaz de ser por inteiro aquilo que canta (ou escreve). Ziraldo e toda a propagada oposição de sua revista estavam na Hebe, entre os ricos e famosos que tanto esculhambam nas suas páginas, não para ser um Daniel entre leões., e sim para se banquetear da caça alheia.

          Temos esta péssima mania de sermos gregários, de não conseguirmos viver em absoluta solidão. Até o mais solitário dos homens certamente vive com seus ídolos, mortos ou vivos, e deles se alimenta na clausura. Homens, porém, e idéias, são alimentos contaminados. E se vivíamos já uma crise de valores e crenças, ver o Ziraldo na Hebe é como andar às cegas num mundo habitado por homens de máscaras que reproduzem a própria fuça, invariavelmente sem a mínima vergonha.

          Nem esquerda nem direita. Nem PT nem PFL. Nem Só pra Contrariar nem Mozart. Nem Van Damme nem Woody Allen. Nem tutu nem scargot. Nem Sidney Sheldon nem Kafka. Nem BUNDAS, nem CARAS, pois. É tudo parte de um mesmo homem.