ESTOU VENDO

de Jorge Furtado

Estou vendo uma mulher, morena, 40 anos, conversando com outra, loira, um pouco mais moça. Ou não. A morena parece a dona da casa, está sentada se maneira mais relaxada, veste uma roupa mais caseira. A loira, pela maneira como deu uma olhada na capa de uma revista, parece visita. Há duas xícaras de cafezinho sobre a mesa de centro, além de um galo português, um cinzeiro de metal e revistas. A morena levanta-se bruscamente, como se fosse atender ao telefone ou à porta. Caminha para a porta. A loira acende um cigarro. A morena abre a porta para um homem, um pouco mais velho que elas, talvez uns 45 anos, levemente calvo. Ele veste terno claro e gravata escura. Se cumprimentam, um pouco formalmente, mas parece que já se conheciam. A loira levanta-se, é apresentada ao homem, se cumprimentam. Os três sentam. A morena diz alguma coisa e se levanta. Sai. O homem e a mulher loira conversam. A morena volta com um café para o homem, que se levanta para pegá-lo. Sentam. Conversam um pouco, os três, mais a morena e o homem. A loira apaga o cigarro. O homem larga o café e fica de pé na frente da morena. Ela continua sentada. Ele se abaixa um pouco. Ela abre bem a boca. Ele examina a boca da morena por alguns segundos. Ele se afasta, ela fecha a boca, ele senta outra vez. Falam mais um pouco. O homem senta na ponta da cadeira, com se estivesse pronto para ir embora. O homem pega o galo português, diz alguma coisa enquanto o examina. Põe o galo sobre a mesa. A morena e o homem se levantam, quase ao mesmo tempo. A loira fica sentada, despede-se do homem com um gesto. A morena o acompanha até a porta. A loira sai da sala levando as xícaras. O homem e a morena olham para o interior da casa. Os dois se olham e beijam-se na boca. Se abraçam. Separam-se. O homem diz alguma coisa e sai. A morena fecha a porta, a loira volta à sala. As duas sentam e conversam um pouco. A morena levanta-se outra vez e caminha para a porta. A loira acende outro cigarro. A morena abre a porta. Um japonês entra, tem uma arma. O japonês atira, duas vezes. A morena cai. A loira apaga o cigarro, pega o galo português e se levanta. A loira entrega o galo ao japonês. Ele guarda a arma. A loira apaga a luz.