Ex-ência

de Clara Averbuck

I wish I was. Mas não sou.

I wish it was. Mas não é. Não era. Nunca foi.

Achava que tudo isso era você, mas não passava de mim mesma tentando achar um abrigo para minhas dores, e agora sinto a dor mais lancinante que já me cortou: a de não ser o que eu achava. A dor de não ser so fuckin special. I’m a creep. I’m a weirdo.

Que venham minhas alucinações, coloridas como carnavalescos querendo se divertir, e que falem comigo, como nunca as permiti que fizessem. Que venham lentamente caminhando pelo escuro da sala e que me joguem confetes e serpentinas. Não posso me mover, por mais que me esforce, e o óleo quente que me percorre as entranhas destrói cada instante que passou.

A carne nos vence o tempo todo, supera toda a tentativa de domar o mundo. Minhas lágrimas corroem meu rosto feito ácido, mas de nada me importa um rosto quando acaba de ser corroída minha alma, minha ex-alma, minha ex-essência. Aquilo que me moveu por todos os séculos dos séculos e que me mantinha viva, acabou.

Meu amor por ti é enorme, mas meu amor pela arte sublima todo o desejo mundano que eu possa vir a ter. Meu amor pela arte supera meu amor por ti, luv. Mesmo que meu amor por ti seja maior que tudo. Desgraço minha vida amando algo que nada me traz, mas é assim o amor: nada dá, tudo leva, e sempre nos desnuda em público quando menos esperamos.

Esfrego minhas faces no cimento tentando morrer mais rápido, sentir mais dor por fora e menos por dentro. It’s over. It’s over, não tem volta, palavras valem mais do que mil atos. Velemos por esses dias que pareciam o início de uma era. Era. Foi.

Não vou mais negar minha loucura ou meu desejo por outros corpos, por mais vazios que sejam. Corpos são corpos, que são carne, e carne é matéria e a matéria é vazia. São tão vazios quanto o teu e certamente serão mais meus; pelo menos ainda me deixarão algo ao partir, diferente de ti, que sugou a minha essência exatamente como eu previ. Mas não há de ser nada, fui eu que pedi: leva tudo de mim, não deixa nada. Eu mesma me ensopei com meu próprio sangue, eu rasguei meu peito com minhas próprias mãos, que agora terão de costurar tudo de volta no lugar. Tudo? Tudo o quê? Não sobrou nada. Me regenerarei, como da outra vez, lentamente, mas dessa vez será diferente. A escolha de ir é minha. Dói, mas o que seria de mim sem dor?