O Querido e o Desconhecido

 

Marisy D´Lopez

 

Ela passou três dias sonhando com ele. Imaginava como seria seu beijo; sua sução, sua fome, e sentia algo quente percorrendo de seu útero até seu sexo a cada vez que imaginava estar sendo beijada por aquele "Desconhecido".

Imaginava que seu beijo talvez pudesse lhe devolver a alegria de vida, a tesão perdida, o brilho nos olhos tão rareados aos quarenta, e que talvez todas as coisas opressivas desse novo tempo fossem amenizadas a cada toque dela, a cada beijo sugado, a cada língua sedenta e curiosa dos lugares mais recônditos daquele homem tão esperado.

Imaginar-se com ele, passara a ser uma doce obsessão. Não podia mais dormir sem pensar no dia que isto pudesse acontecer. Pensava nele intensamente; mas tão intensamente que seu corpo chegava a sentir tudo como se ele estivesse ali, abraçando-a docemente.

Tão intensamente eram seus desejos que talvez ele mesmo estivesse nessa sintonia. Ou não.

Hoje, depois do banho, quando vestiu a cueca azul-noite, e deslizou a mão pelo tecido acetinado, imaginou-o fazendo o mesmo, assim que a encontrasse um dia de cuecas...

Sua camisa de seda chinesa desabotoou-se no primeiro botão (aquele que fica logo no início da junção dos seios), deixou a descoberto os seis ornados pela renda cinza do soutien, e ela, naquela visão sensual, não conseguiu deixar de pensar se um dia ele a visse assim, com a camisa desabotoada apenas no primeiro botão...

É nas coisas mais simples que ela retorna a ele inevitavelmente. Impossível desligar.

Ele faz parte de seu diário, dos seus pés na grama molhada do sítio, de quando colhe uvas sob o parreiral e as leva até a boca, sentindo aquele prazer puro, sem agros de espécie alguma _ apenas os fluidos da mãe natureza. Até mesmo hoje, quando acariciou o pêlo do cavalo _ a maciez, a força, a sensualidade daquele animal, tudo sempre reporta a ele.

Mas nada foi tão intenso quando na manhã de Domingo, depois da chuva, ela resolveu encilhar o cavalo e trotear pelas colinas do sítio. Seu sexo roçava na sela, e descobriu que quando o animal escalava alguma colina mais íngreme, o atrito acelerava e ela sentia o mais intenso dos prazeres inexplicável. Já muitas vezes andara a cavalo; aos vinte na Campanha, aos trinta em Itapoã, aos 40 em Paraty, e nunca sentira isto! Talvez fosse por toda uma situação _ a cueca de seda, pés descalços, a trança fininha do lado esquerdo do rosto com penas de galinha-de-angola na ponta, o cabelo liso solto e desgrenhado...talvez ...o olhar de cobiça do matuto caseiro contribuísse...e a prima disse que ela parecia uma índia selvagem!

Às vezes, ela descansava sob uma árvore para tomar fôlego, e abraçava o "Querido" _ assim ela o chamava; conversava com ele, beijava seu pescoço, acariciava-o, seus cabelos misturavam-se com as crinas do animal e era uma coisa só...até a cor! Cor de mel. E, por vezes, o "Querido" e o "Desconhecido" se misturavam e ela não sabia a quem estava abraçando, em quem cavalgava ou de quem ouvidos ela sussurrava...

Ela sonha. Sonha em transar com esse "Desconhecido" na chuva bebendo tequila. Ou vinho.

Sonha em transar com ele no mato, na grama, sentindo o cheiro de grama esmagada de suor e esperma escorrendo pelas coxas e sentir a saliva do "Desconhecido" nos bicos dos seus seios entumescendo-os.

Por vezes, ela parece aquietada, e sonha amar esse desconhecido no conforto de uma rede branca, na maciez de lençóis limpos do seu quarto nipônico, ou na luxúria de um motel...ou enquanto ele dirige, deixando-o excitado...com a cabeça em seu colo...

Ela não conhece ele. Mas é como se o conhecesse _ seu corpo, seu cheiro, seu hálito...

Ela nunca o viu, mas é como se ele estivesse ali, sempre do seu lado. A única coisa que eles têm de real, são algumas conversas telefônicas, em que eles ficam tão perto, mas tão perto que quase dá para sentir o coração do outro pulsando; a tristeza de um envolvendo a alegria dela; ou o carinho dela recobrindo os dois.

E eles parecem um.