Dr. Hunterhood, devo presumir?
por Werner Schünemann

Todo mundo acompanhou mais ou menos a fulgurante visita desse prócer da qualidade e da imprensa livre mundial por nossas paisagens sulistas. Afinal, quem trouxe o homem?

O homem se chama David S. Hunterhood, da University of Minnesota and Santa Monica, USA. Quando de sua passagem por Porto Alegre, algumas entidades culturais que não pretendo citar convidaram o eminente jornalista e repórter para que facasse, assistisse e opinasse sobre a produção cinematográfica local e brasileira - estrangeiro nenhum até hoje escapou de Glauber.

Pois o Dr. (é PhD) Hunterhood ficou, assistiu e não deixou de externar suas impressões, o que o jornalista dentro dele provavelmente faria mesmo que ninguém o solicitasse. Disse que ficou bem impressionado com a diversidade dos temas. Que os recursos humanos muitas vezes superam precariedade técnica. Que os atores são de primeira. Que os diretores não deixam a desejar. Que só a distância do centro do país e uma certa fragilidade de estilos podem explicar que o chamado cinema gaúcho não seja um estrondoso sucesso no mundo inteiro.

David S. (parece que é Spencer) Hunterhood tratou nossos filmes com a falta de cuidado com que qualquer um trata qualquer filme, seja ele de onde for. Spencer Hunterhood não tem nada a dizer. Porque sobre filmes talvez o melhor seja, de uma vez por todas, simplesmente calar. Que pode interessar a opinião do ilustre Doutor? Ele sequer pagou ingressos para todos os filmes a que assistiu. Fazemos filmes para que espectadores se interessem ao ponto de pagar ingressos por eles. Comentários como os do Dr. Hunterhood são estranhos ao fazer cinematográfico e ao assistir a filmes e degustar a troca.

Esse doutor de Santa Monica - isso não fica meio distante de Minnesota? Como é que esse cara se vira com a agenda? - deveria guardar suas impressões. E, com elas guardadas para si, quem sabe pensar um pouco. Talvez até aproveitar que está pensando e refletir. Se chegar a tanto, ponha suas reflexões no papel e mande pra gente - APTC, FUNDACINE, etc, que damos um jeito de publicá-las. Mas impressões, não. Além das digitais, nenhuma outra pode ter qualquer interesse.

Desculpe o mau jeito, Doutor. Anyway, you're welcome , believe me.

Werner Schünemann , cineasta, ator , roteirista e com o saco um pouco cheio.

P.S. Lembrei de acrescentar quatro perguntas:
1. De que serve ler David Spencer Hunterhood?
2. Afinal quem para as despesas do ilustre doutor?
3. A quem interessa o que impressiona e o que não impressona o disitinto sujeito?
4. E será que escrever sobre ele não lhe serve de escada - ora, mas quem sou eu?

OBS.: Cuidado. Antes de sentar o pau, é bom verificar se não descende de índios, afro-americanos, judeus, mexicanos dizimados com Zappata ou se não é parente de algum sem-terra. Aí é melhor deixar pra lá.

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