CAOS+MIC+[PAT]
The Cosmic Path
Uma crônica com três pontos finais e três de interrogação

por André "Cardoso" Czarnobai

I

E tipo então é um fluxo de consciência que pretende não errar na gramática, a cachaça desce quente dói a barriga um monte mas ao menos não tou mais com tanta dor de dente pelo SISO maldito SISO que insiste em nascer nessa boca e na tv tem um magrão no ALT Shoping desabotoando a blusa da Pamela ou da Tracy, sabe-se lá que diabos faz aquele edredon azul por sobre a grama tão verde verde linda com sol de dez da manhã aquele sol que deixa as meninas mais bonitas e ainda as lembra que são meninas ainda e que devem tratar melhor seus meninos e quem diria que aos vinte e um anos de idade eu me pegaria na madrugada fria de quinta escrevendo bebendo cachaça do Paulo Ulbrich para quem não emprestei a câmera de foto Ricoh que a gente comprou mais barato porque ninguém conhecia e pensava que era palha mas na real é uma das marcas mais tradicionais do japão e é tri boa, aliás tira umas fotos impressionantes, melhor que muita Pentax e Nikon aí mas não melhor que a Pratika do Galera porque aquilo é que é máquina, de latão, bem gasta pelos anos: panela velha é que faz comida boa, dizia uma canção qualquer num trocadilho digno do Egs ou do Becker, que por sinal foi o inventor do trocadilho "cardosonline" que depois imortalizou o fanzine por email aquele que o cara ruivo esse faz quando tá de bom ou de mau humor, mesmo que tenha passado a noite em claro transando com a sua menina ou cheirando cocaína de mentira porque em suas narinas não entra tal cloridrato desde que o fatídico inverno de maio de 98 em Oásis do Sul com tequila e capoeira quase o levou para a terra do além onde todos os pecados são perdoados ou não, dependendo se você cobiçou a mulher do próximo ou não e de minha parte eu não só cobicei como muitas vezes beijei, tentei, cantei, seduzi, chupei, lambi e comi e outras tantas apenas olhei de longe aqueles olhos azuis e aqueles olhos negros que me faziam sonhar com onde a curva da bunda era desenhada pela calcinha e apertava no fim do dia meio rósea a pele na machucadura do elástico naquela sedinha que ela insistia em dizer que não era presente divino, apenas um par de coxas.

Mas que par de coxas, vai dizer?

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II

E sabe uma vontade insuportável de chegar no teu quarto e te ver de saia curtinha pretinha, de pé no chão e ventilador ligado me chamando e me sorrindo e com os olhinhos meio fechados e os peitinhos já levantados por de baixo da camisetinha branca espremidos contra o sutiã pretinho de renda diferente da calcinha de algodão branquinho com ursinhos perfumada do teu perfume que emana de todo teu corpinho macio, das perninhas mais perfeitas que eu conheço e olha que eu conheço um bocado de perninhas que eu quase sempre chamo de coxas mas tuas coxas são perninhas maravilhosas e docinhas e quentinhas e pedindo mordidas pra escutar teus ais com a tua vozinha e sentir a tua língua na minha orelha enquanto meus dedos te percorrem pedindo uma frase, pedindo um socorro, pedindo um carinho, implorando pra deitar contigo e me perder em bobagens como os Pixies, que eu nunca tinha parado pra ouvir muito mas que depois de ter sido cantado como tu me cantou eu simplesmente não pude mais ignorar porque a música do Frank Black era agora parte de mim como cada um dos teus murmúrios e cada dia que eu não te ligo com medo de te encontrar contente de me ver longe distante de todas essas coisinhas que circundam o teu pescoço e de todas as roupinhas que tu vestia pra ir no banheiro de manhazinha cedo enquanto eu me fingia de dormindo só pra esperar teus estalinhos de lábio no meu rosto e teu abracinho de braços pequenos pressionando os seios contra minhas costas curvadas e imaginar tua boca brincando com a minha e o cheiro do teu cabelo é meu veneno, minha droga é o gosto das nossas madrugadas lisérgicas e eróticas e tu é com certeza a única mulher com quem eu me casaria nesse mundo e se isso não vier a ser realidade um dia então morrerei solteiro e isso nem terá sido em vão pois te conheci e te tive como amiga e como amante, fui quase teu pai e fui um pouco dos teus desejos e anseios em muitos momentos incertos da nossa curta intersecção de destinos?

Pois é, eu tenho essa vontade de fazer tudo de novo às vezes.

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III

Mas aí é madrugada, meio da noite por definição, se é que encontramos começo e fim em alguma coisa qualquer diferente ou igual ao que acontece quando a moreninha de cabelos curtinhos recebe um mail procurando-a desesperadamente e eu fico com ciúmes e grito antes sai que é minha e ninguém tasca, eu vi primeiro e coisas assim pra ver se espanto as idéias da cabeça do rapaz que pretende lambê-la de cima a baixo, da sua tatuagem chinesa no ombro até o biquini colorido que fica se esgueirando por sobre todos aqueles centímetros cúbicos de calor e desejo que se perdem nos meus olhos azuis nessa cabeça que às vezes esquece que um dia já deu um beijo naqueles lábios e brincou com a língua naquela boca e que foi uma coisa tão maluca que quase rendeu expulsão de um outro paraíso pequenininho e cheio de piercings aí mas depois que eu pedi desculpas e expliquei que foi sem querer fui logo readmitido ao éden falso que ainda recrio nos meus pensamentos mas não digo mais muito pra não assustar nenhuma menina que se perca na minha retina como ela se perdia, pra que essa menina morena só se perca quando eu não conseguir achá-la e para que ela continue a me convidar pra ir no cinema às três da manhã no ICQ pra ir ver Garota, Interrompida ainda fazendo beicinho dizendo que ninguém quis ir com ela e me deixe rindo sozinho e pensando que ela não ia ligar no outro dia de tarde como de fato não o fez e eu como não tenho o telefone dela não pude procurá-la então fiquei ali olhando a sala vazia e comendo chocolate do ovo de páscoa sedução e ouvindo Have you heard it through the grapevine cantado nem pelo Marvin Gaye nem pelo Creedence, mas por um grupinho de r'n'b chamado Brownstone, só com meninas bronzeadinhas, um pouco mais que o corpinho moreno e magrinho dela, mas com o mesmo barulho que fazia ali atrás da minha nuca quando ela passava correndo no meio das barracas com o umbigo de brinco e me abraçava e me surpreendia me chamando de amor e dizendo que não me trocava por qualquer um e ainda depois sempre fazia questão de botar um sorrisinho, no rosto ou no monitor.

Ajudou agora na auto-estima?

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