A terceira casa do zodíaco

Por Marcelo Träsel

A faca penetrou a réstia de carne macia entre as costelas de Irene. Penetrou e despenetrou e penetrou. As mãos dela foram relaxando. Jorge resfolegava. Estava ainda meio tonto com a falta de ar e a surpresa causada pelas mãos de Irene apertando seu pescoço, quando conseguiu pegar a faca na pia. Foi puro instinto. No instante anterior, o braço segurando o corpo quente dela por baixo das axilas e uma das mãos apertando suas nádegas geladas pelo aço inox, os punhos femininos de Irene golpeando suas costas, Jorge chegava perto de encher seu útero com o mais cálido esperma. Naquele dia, como na maior parte das vezes, suas volúpias haviam coincidido. Tinham este jogo. Ela gostava de imaginar estar sendo currada por um policial militar negro, alto e forte, naqueles dias em que já pela manhã todo seu sangue afluía para entre as pernas. Não somente Jorge aceitava, como nos dias em que sua ereção matinal mantinha-se, mesmo depois da primeira mijada, até a tardinha, era ele quem já entrava na casa de Irene abrindo as calças e levantando seu vestido. Uma colegial indefesa, era ela. E vestindo a pele de brigadiano estuprador ele havia chegado na casa dela naquele dia. Usou a chave que Irene lhe dera, fechou a porta logo atrás de si e deixou suas calças e cuecas no hall. Ouviu o barulho de pratos tilintando na cozinha, e dirigiu-se em riste para lá. Ela estava com metade dos braços enfiados na pia, o vestidinho curto quase deixando aparecer um final de bunda. Silencioso, agarrou-a por trás. Irene gritou, ele tapou sua boca. Jorge levantou-a no ar e a colocou sentada sobre esponjas e detergentes. Enfiou a mão em sob a tira de sua calcinha e arrancou, jogando os trapos sobre o fogão. Irene protestava, gritava-lhe para que parasse e dava-lhe tapas e socos. Jorge segurou suas ancas e penetrou fundo. Antes, vindo pelo outro lado da rua, tentara chamá-la, mas Irene não enxergava seu braço levantado. Jorge ia gritar seu nome, mas percebeu o grosso volume escuro apertado contra o peito da moça. Aquela não devia ser Irene. Ainda em dúvida, viu ela caminhar até o ponto de ônibus em que ele descera havia pouco e esperar, esticando o pescoço para ver o nome de cada coletivo que vinha. Não havia, pensando bem, motivo para se preocupar, já que no telefonema ao meio-dia ela dissera que o esperaria em casa lá pelas seis horas. Ele podia entrar sem problemas na casa de Irene, porque aquela irmã metida a beata lá dela – que não gostava dele - tinha dito que iria na missa das seis. Antes de desligar, Irene pediu: