INTOLERÂNCIA

por J. Olímpio

olimpio@mais.sul.com.br

Era um País muito estranho, com status oficial de Nação. Beirava a virada do terceiro milênio e eles - o povo do tal País - ainda passavam por agruras do primeiro (milênio, é claro!). Ainda padeciam com a fome, a escravatura, as epidemias, o analfabetismo, a corrupção, a precariedade em todos os sentidos... Mas, o que mais gritava aos espantados olhos do mundo (se é que gritos podem ser vistos por alguém) era a intolerância que aquele povo manifestava a tudo e a todos que se mostravam críticos àquela situação generalizada. Não toleravam conselhos, assessorias, advertências, admoestações, chamadas à atenção de qualquer espécie. Só acatavam ordens expressas, desde que vindas de fontes credoras irrecorríveis ou de origem belicosa superior. E assim se arrastava aquela novela continental - que o tal País era imenso e deitado estava, esplendidamente, no berço da América austral - entre "ais" e "uis" coletivos. E ninguém duvidava mais do destino daquela gente, mesmo que desunida e indolente, rumo à pasmaceira de um 2001 já chegante... Só que, no mais fundo da alma, em transvoluções irreprimíveis, a intolerância atingia seu ápice. Ninguém perdia por esperar, não havia alguém que esperasse perder. Perder o bonde da história, o trem da esperança, o metrô da coragem, o avião da vitória. Mas nenhum daqueles cidadãos secretos disse nada. Pois já quase não se toleravam vozes, pensamentos de mudança da situação. E, mesmo não havendo censura, um consenso tácito dava o tom daquele silêncio cego, surdo e imundo. E o que não se tolera ainda paira, feito disco voador fantasma, no imaginário desta gente de um País com nome de fogueira; cuja faísca tarda mas não (???) falha!