TAKEDA, UM CARINHA ESTRANHO

Diego Grando

lsdidi@terra.com.br

Takeda era um rapaz estranho. Muito estranho.

Aparentemente até levava uma vida normal. Fazia faculdade, tinha um carro que ganhou do pai, jogava futebol com os colegas, bebia com os amigos, etc. Mas ficava só na aparência mesmo.

Desde pequeno, Takeda comia formigas. Não, não era só aquele impulso infantil de comer uma simples e inofensiva formiguinha. Ele pegava uma bisnaguinha e saía para a rua. Catava uma porção de formigas e estava pronto o sanduíche. Mas tudo bem, era apenas um garoto de 8 anos...

Depois veio a época do Nescau. Não, não era tomar um Nescau de manhã. Takeda cheirava Nescau. Isso mesmo. Fazia uma carreirinha e mandava brasa. Com o tempo o vício aumentou, e já eram 4, 5 carreiras de Nescau por dia. Vamos entender, era só uma maluquice de um adolescente de 16 anos...

Quando terminou o segundo grau, decidiu viajar para o exterior. Sua família, com boas condições, apoiou a decisão do filho. Só não esperavam que ele fosse para o interior da Papua Nova Guiné. Sem problemas, seria ótimo para um jovem de 18 anos...

Lá chegando, numa pobre cidadezinha do interior, achou uma pensão barata. Passou a conhecer a cidade e, em menos de uma semana, já sabia os melhores lugares para freqüentar. Mas lá não tinha Nescau. E nenhum outro tipo de achocolatado em pó. Takeda ficou um pouco deprimido, e decidiu que deveria mudar. Procuraria amigos e um emprego. Propostas surgiram: garçom, secretário, balconista. Decidiu ser carteiro. Trabalhava duas vezes por semana, e geralmente era coisa pouca. Ganhava uma miséria.

Perdeu o contato com a família.

Um ano e meio depois voltou para casa. Onze quilos mais magro, Takeda era um fiapo. Decidiu fazer vestibular e acabou passando. Era um bom aluno do curso de Ciências Sociais. Tinha abandonado o Nescau e as formigas e morava sozinho.

Passou a comer só coisas fora do prazo de validade. No começo foi difícil, Takeda cavocava armários para achar algo velho: bolachas moles, leite amargo, ovo podre.

Sempre que comprava alguma coisa no supermercado procurava a data de validade. E escolhia a mais velha.

Certa vez, Takeda comeu uma pizza quatro queijos. Já estava vencida a uns seis meses. O que aconteceu foi que aquilo deve ter criado uma porção fungos. Takeda não passou mal, mas teve alucinações. Muito mais forte que qualquer LSD, qualquer chá de cogumelo que já havia tomado. No auge da loucura, quando fugia de um dragão de 38 olhos que andava de bicicleta e falava japonês, Takeda pulou da janela do seu edifício. Era o quarto andar.

Mas ele não morreu. Claro que não, era realmente diferente. Caiu de nuca, esmigalhou a coluna.

Hoje está tetraplégico em vida vegetativa.

É, Takeda, quem mandou fazer coisas tão estranhas...