Editorial
Não 75
 

A Laranja Orgânica
O gomo amargo da vida


 
 
 
  Qual vai ser o programa, hein?

O mundo cão nos oferece diariamente cenas bizarras, nossos olhos estão sempre à procura de mais um detalhe infame, o sangue esguichando, o mão decepada, o sexo explícito, coisas que foram concebidas para serem feitas longe da mulher, da polícia, das garras da lei. E são exatamente por serem escondidas, escusas, feias, proibidas, impublicáveis que estas relíquias chamam nosso interesse devasso. O animal cruel ou sádico ou bruto que há dentro de cada um é excitado exatamente pelo grotesco.

Contudo, um "barranqueador" seria discriminado se contasse por aí que tem gosto em comer o cuzinho das ovelhas de sua família logo ao alvorecer. De nada adiantaria ele justificar que o orifício de um ovino é um local mais apertadinho e portanto mais tesudo que, por exemplo, a perereca da sua namorada. Até porque, convenhamos, a ovelha não exigirá laços emocionais nem aliança de noivado, muito menos balirá para que se espere ela gozar.

Dei o exemplo do barranqueador, mas há todo um universo prenhe de cadelices que a literatura dita "erudita", feita por mãos mimosas, dificilmente contempla. Pois é para isso que o NÃO 75 foi feito, oh meus irmãos!

O desafio inicial era escrever sobre estas mazelas humanas. O clássico The Clockwork Orange, seja o livro de Anthony Burguess ou o filme de Stanley Kubrick, serviu de inspiração a este NÃO 75 - "Laranja Orgânica". Foi a única imagem que apareceu em meu gúliver doentio quando cogitava um tema para esta edição. Mas, como diria Max Weber, ou seria Tom Jobim?, o homem é essencialmente bom e as pessoas também mandaram doces eslovos vindos de seus corações.

De qualquer maneira, seguirei acreditando que todo o ato humano tenha duas intenções: a aparente e a secundária. Como nos baseamos nos pilares da simpatia e da urbanidade, em geral a intenção secundária fica debaixo dessa máscara de civilidade, de religião, de filosofia e toda essa quél. Sim, oh, irmãos! creio que sejamos todos monstros babantes disfarçados de cheirosos querubins.

Voilà!
 

Ariela Boaventura.
mozarela@hotmail.com

(Agradeço a Giba Assis Brasil, vinhos Casa Valduga, Eduardo Kersting, Claudia Barbisan, Heron Heinz, Julio Cesar Oliveira e a todos os que colaboraram nesta edição.)

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