ITENS ENVIADOS (7) 
por Giba Assis Brasil

 
para Debora Peters 27/01/2002

Como já existe esse tipo de carnaval com escolas de samba e desfile temático há mais de 40 anos, e como só no Rio de Janeiro tem 3 divisões, cada uma com 20 escolas, tu pode imaginar que os temas dos desfiles andam escasseando ultimamente. Pois escassearam tanto que a Caprichosos de Pilares, neste ano da graça de 2002, vai sair com o enredo "Deu pra ti, tou em alto astral, tou com Porto Alegre, tri-legal". Pois os caras entendem tanto de Porto Alegre que vão fazer uma ala em homenagem ao Teixeirinha (que nasceu em Rolante), e entendem tanto de cinema que imaginaram que a gente ia achar o máximo pagar 280 reais mais a passagem e estadia no Rio pra sair fantasiado de Teixeirinha, e ainda correr o risco de aparecer na televisão. E o pior é que a ala se chama "Fala sério"!
 

para Maria do Rosário Caetano 27/01/2002

Certamente o Gerbase vai reclamar por ter sido identificado como "um dos atores" do DEU PRA TI ANOS 70 - além disso, ele foi também assistente de direção, de produção, palpiteiro, motorista, iluminador e mais todas aquelas funções que em super-8 sobram pros poucos e verdadeiros "realizadores" de um filme.

Ah, e eu achei engraçada a tua menção à "brincadeira da garrafa", que leitores mais jovens podem interpretar de forma maliciosa, graças a alguns eventos recentes da "música" "popular" "brasileira"

É verdade, ninguém defende o Glauber na cena do bar. Mas a cena é toda feita de monólogos, nenhum dos personagens realmente responde ao que o outro falou. Além disso, quando o filme foi feito (e lançado), o Glauber ainda estava vivo, e ainda era muito presente pra nós a defesa que ele tinha feito do Golbery. E mais: a frase polêmica "Glauber é um fascista" é uma citação (descontextualizada, é claro) ao Jean-Claude, não é?
 

para Marcos Breda 03/02/2002

[Até que ano não começou tão mal?] Olha, eu concordo, principalmente se o assunto for o nosso colorado. Mas juro que não esperava ler esta frase de quem quebrou seis costelas e a clavícula em janeiro. Mas é isso,voltamos a ter um Fabiano que faz gols, um baiano que não confunde bola com coco e, é verdade, tu podia ter morrido, podia estar numa cama de hospital em Cabul, podia ter ido visitar um amigo que trabalhava no World Trade Center dia 11 de setembro, etc, etc, etc.
Abraço, bem de leve. Tá bom, fico com um aperto de mão, por enquanto.
 

para Alvaro Teixeira 05/02/2002

Faz tanto tempo que eu não vejo o Jornal da Globo que nem sei mais como é que funcionam essas coisas, mas imagino que seja o mesmo de sempre. A passeata sem número de manifestantes e reduzida a uma briga sem importância não é propriamente novidade. Já essa do Bové fumando no aeroporto é o máximo. Em outras épocas, eles teriam chamado a atenção para o fato de que o cigarro fumado era Gauloise, mas agora é proibido ironizar a globalização. Quanto à Ana Paula, chega a ser cômico que uma moça com "Padrão" no nome termine sendo a cara do noticiário da Globo. E Escrúpulo podia ser o sobrenome de um velho jornalista: Oscar Escrúpulo, chefe de redação do Jornal Nacional por mais de 30 anos, demitido por justa causa.
 

para Clarisse Rath 04/02/2002

Em primeiro lugar, não foi uma conferência, mas um debate, uma mesa-redonda, que no Fórum o pessoal chama de "oficina". O que eu disse não foi nada de muito interessante. Disse que eu não sou especialista em marketing político, que eu sou um jornalista que terminou fazendo cinema, que as minhas atividades em cinema sempre foram coletivas, que desde 1991 este coletivo é a empresa Casa de Cinema de Porto Alegre, que tem 6 sócios e um grupo grande de colaboradores, que uma das atividades em que a gente se envolveu foi em campanhas políticas (3 para o PT de PoA, 2 para o PT do RS), que eu considero o Horário Eleitoral Gratuito uma conquista democrática da sociedade brasileira porque é a única época do ano em que cada fato tem mais de uma versão apresentada na televisão (no resto do ano, os noticiários todos dão sempre a mesma versão sobre tudo), que num dia de mau humor eu defini a fórmula das campanhas políticas como sendo "30% de mau jornalismo, 20% de má poesia e o resto de publicidade da pior espécie", que eu acho que o Horário Eleitoral Gratuito, como instrumento democrático, está sendo ameaçado pelas sucessivas legislações, que tendem a torná-lo cada vez mais publicitário e menos politizado e, finalmente, que eu acredito que já se encerrou o ciclo da Casa de Cinema fazendo campanhas políticas.
 

para Paulo Cezar da Rosa 05/02/2002

Não esqueça que o Duda Mendonça deve ter vindo [participar de uma oficina do Fórum Social Mundial] principalmente por necessidade de parecer simpático a alguns setores do PT que ainda estejam se opondo ao acordo entre ele e o Lula para fazer a campanha. Aliás, ao menos no meu caso, ele acertou. Achei o baiano simpático. Claro que eu não engulo essa do Caminho de São Tiago. E, na única pergunta direta que eu fiz pra ele, ou eu não me expliquei direito, ou ele não entendeu, ou baianamente resolveu responder outra coisa.

Repetindo. Eu achei os dois comerciais [que ele fez pro PT] eficientes (o do "no fundo, no fundo, você é um pouco PT" e o dos ratos roendo a bandeira). Só que o primeiro lida com o "lado bom" do PT, a solidariedade, a indignação, a vontade e a força de mudar. E o segundo lida com o "lado negro" do PT, o moralismo babaca, o "todos nós somos honestos, eles são sempre ladrões", atitude udenista que só expõe nosso telhado de vidro, que nos deixa tendo que dar explicações cada vez que aparece um picaretinha de merda dentro do partido. A pergunta era qual dos lados do PT deveria ser mais explorado pra ganhar a eleição. Ele respondeu comparando comerciais "polêmicos" ou "não polêmicos", se justificou por pesquisas anteriores e posteriores que confirmaram que o comercial dos ratos era eficiente, o que eu mesmo já tinha dito. Acho que eu não me expliquei direito mesmo. Acontece.
 

para Márcia Baldissera 20/02/2002

[Teu amigo italiano Nicola voltou do FSM e achou tudo bellissimo?] Que bom! A gente aqui teve uma impressão meio caótica - belíssimo, sem dúvida, e de uma importância fundamental pra tudo o que pode ser feito daqui pra frente pra melhorar esse nosso mundinho, mas a gente tende a se sentir mal com os problemas de (falta de) organização, excesso de interesses partidários, espaço demasiado dado às brigas locais, etc. Mas a Veja e a Zero Hora acharam tudo uma merda, o que significa que deve ter sido muito muito muito bom mesmo.
 

para Luciana Rodrigues 23/02/2002

Assisti muito pouco do Fórum Audiovisual Mundial. Acho quase um milagre que ele tenha saído, com o pouco tempo e praticamente nenhuma verba que os pouquíssimos voluntários tiveram para a sua organização. O objetivo principal era lançar a idéia e garantir que ele venha a acontecer no ano que vem, em outro patamar.

Dos debates abertos ao público, realmente, acho que não não saiu absolutamente nada de aproveitável. Cheguei a me irritar com a dificuldade das pessoas em entenderem que aquilo se propunha a ser um Fórum Audiovisual Mundial, e insistirem em discutir assuntos que, no máximo, teriam interesse nacional, pra espanto dos palestrantes estrangeiros, que esperavam perguntas e questionamentos sobre as palestras que eles tinham acabado de fazer. Não, o pessoal estava interessado mesmo em discutir a TV Universitária de São Paulo, o cinema experimental-umbilical em super-8 de Porto Alegre, o caráter da família do Barretão. Sinceramente, enchi o saco. Mas a declaração final, apesar de tudo, acabou sendo interessante. Genérica (e nem podia deixar de ser), mas apontando para algumas coisas concretas que podem vir a acontecer no decorrer do próximo ano. Quem sabe?

Ah, e participei de um almoço no Palácio Piratini com o Chomsky, tive com ele um diálogo muito instrutivo, "nice to meet you", eu disse, "nice to meet you", ele respondeu, acho que ele não teve tempo de perceber que na verdade eu tinha dito "nice to MIT you", um trocadilho que, é claro, tentava resumir toda a minha admiração pessoal pela coerência do trabalho dele no meio de uma instituição reacionária como aquela. Até porque em seguida ele foi sentar naquele mesão do Palácio, entre o Olívio Dutra, o Luis Fernando Verissimo e o Moacyr Scliar, e o meu lugar marcado era no outro oposto da mesa, entre o Pilla Vares, o Emir Sader e o Atílio Boron (sociólogo argentino, secretário geral do CLACSO), no que terminou virando basicamente uma conversa sobre futebol, entre dois colorados, um palmeirense (são-paulino renegado e confesso) e um "hincha de Boca" - tudo porque, é claro, não tinha nenhuma mulher na mesa.
 

para Fausta Lima 27/02/2002

Lembro, por exemplo, da Teresa, com dois anos, brincando sozinha com o uniforme de Batman do Antônio (e não sabendo que estava sendo observada) e dizendo pra ela mesma no intercomunicador: "só um pouquinho, Batman, eu vou matar uma criança e já vou aí". Violência? O que será que essa menina anda vendo/ouvindo? É verdade, mas também um jogo lúdico e criativo: Batman e seus amigos vivem matando adultos, no meu jogo eu mato quem está mais próximo de mim. E matar, afinal de contas, é só um jeito de eliminar da brincadeira, principalmente pra quem ainda não sabe o que é a morte. Atirei um pau no gatoto, mas o gatoto não morreurreurreu. O cravo saiu ferido e a rosa, despedaçada.
 

para Giuseppe Zani 11/03/2002

Respeito muito tanto o Marçal Aquino quanto o Fernando Bonassi. Mas não concordo inteiramente com o que eles dizem sobre o Syd Field. Acho que o cara inclusive não tem tanta importância assim, pra ser combatido como se fosse "o inimigo". Ele é apenas um autor de manuais de roteiro,razoavelmente inteligente e esperto, que conseguiu captar como ninguém a estrutura básica de um tipo de cinema que vem sendo feito em Hollywood há algumas décadas. Os livros dele servem pra isso: pra nos ajudar a entender como foram feitos estes filmes, e como eles ainda vão continuar a ser feitos por sei lá quanto tempo. Mas eles não servem pra analisar qualquer tipo de roteiro, nem mesmo qualquer tipo de roteiro produzido por Hollywood. E eles podem se tornar um problema, se o cara que os lê acredita neles como uma fórmula mágica para, a partir de uma boa idéia de argumento, construir um roteiro que será produzido por Hollywood e será indicado para o Oscar.
 

Giba Assis Brasil
giba@portoweb.com.br
 
 

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