PRÉVIAS NO PT
por Giba Assis Brasil 17/03/2002 - 17:55
 

Votei no Tarso por motivos quase óbvios, mas ao mesmo tempo difíceis de serem defendidos em público, sem que isso signifique um desabono ao Olívio e aos meus amigos e companheiros que estão no governo. Acho que Tarso é melhor candidato, até porque não passou pela desgastante campanha de 1998. Acho que Tarso pode ser melhor governador, não tanto pelas suas qualidades pessoais, por sua visão lúcida do papel da esquerda hoje, mas principalmente porque, não tendo participado desses quatro anos de mandato, pode enfrentar melhor o isolamento em que o governo terminou caindo, com relação à imprensa, ao Legislativo e até mesmo à maioria do próprio partido (o que, imagino, vai ficar claro com os resultados da prévia).

Paulo Santana, com seu raciocínio torto mas interessante, escreveu na semana passada que Tarso seria o melhor candidato porque ninguém melhor do que ele personifica a oposição a Olívio. Faltou dizer que Tarso é a oposição a Olívio que o Rio Grande do Sul precisa: capaz de enfrentar as contradições do primeiro governo do PT mas também de manter e ampliar o seu projeto - frase de propaganda, mas, por acaso, verdadeira.

De qualquer modo, também acho que esta prévia foi muito desgastante para todo o partido, e por isso terminei não participando dela ativamente. Manifestei o meu apoio ao Tarso, inclusive pessoalmente, nunca escondi de ninguém o meu voto (sendo filiado, não acho que tenha direito de fazer segredo da minha posição), saí de casa no meio da tarde de domingo pra votar, mas, durante dois meses, procurei não falar muito no assunto. Agora que as urnas devem estar sendo abertas em todo o estado, me dou o direito de dizer: votei no Tarso pra ganhar.

Votei no Suplicy pra perder, e por motivos menos óbvios. Acho que o Lula, ainda que se aposentasse amanhã (o que eu, é claro, espero que não aconteça), já teria lugar na História como o político mais importante do Brasil nos últimos 40 anos. Mais importante inclusive do que o Collor, o Itamar e o Fernando Henrique, que não teriam sido presidentes sem o medo que o Lula inspirou nos seus (deles) financiadores.

Talvez exatamente por isso, não consigo acreditar que o Lula venha a ser presidente do Brasil, não antes de 40 ou 50 anos, quando ele vai estar mais velho que o Tancredo em 1985 ou que o Brizola hoje. Preconceito da classe média alimentado pela "classe mídia", auto-preconceito da maioria da população contra o político mais parecido com ela própria que já surgiu no país, preconceito meu introjetado contra o metalúrgico que botou terno-e-gravata, sei lá.

Refazendo a tal "teoria dos três terços", atribuída ao Duda Mendonça: um terço dos eleitores do Brasil votam no Lula sempre, um terço não vota no Lula de jeito nenhum, e o último terço diz que talvez, quem sabe, um dia, poderia votar no Lula, mas termina sempre votando em qualquer um que não seja o Lula: Maluf, Roseana, Enéas, Collor, Fernando Henrique, Ciro, Serra. Este é o terço aparentemente mais manipulável, mas na verdade é o mais coerente - coerente com o seu próprio preconceito.

Em 1998, defendi que o PT deveria lançar um outro candidato à presidência (meu preferido era o Tarso, mas poderia ter sido qualquer um: Suplicy, Marta, Genoíno, Cristóvão, Mercadante), não pra ganhar, já que não havia mesmo qualquer possibilidade de vitória, mas pra apontar pra um futuro (que seria agora, 2002) quando o partido teria condições de ter um projeto para o país - aí então, com um novo candidato que até podia eventualmente ser o Lula. Lula em 98 e Lula de novo em 2002 significa o que nós já sabemos: o projeto do PT para o país é o próprio Lula. Pelo que a figura do Lula significa, acredito que este já foi um grande projeto, mas passou, não se atualizou, perdeu o bonde - espero que não definitivamente.

Lula vai ganhar a prévia do PT, não tenho dúvida disso, e eu vou votar nele de novo para presidente, porque não existe nada melhor como perspectiva para o Brasil (e, provavelmente, é exatamente por isso que ele vai perder). Mas, quem sabe, um número significativo de votos para o Suplicy na prévia pode ajudar o PT a construir um projeto novo, que não dependa tanto da figura carismática do seu maior líder e de todas as suas possibilidades simbólicas, um projeto que tenha um cunho ideológico, mas uma matriz programática e uma estratégia que se permita construir alianças e até coligações - mas, pelamordedeus, que não comece pelo PL.
 

Giba Assis Brasil
giba@portoweb.com.br
 



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