Boca-grande não entra no céu

Miguel da Costa Franco

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Me, myself and I, como diria o outro, nós quatro, mais eu mesmo, que a passeio fincara pé por lá em Canoa Quebrada, apesar da areia fofa e das jacas moles e das pernas bambas de forró e rede de dormir e árcol, tárcol e acqua verva e masmiconha de vez em quando (quieto aí, Bocão!) passeávamos ao sol do fim da tarde, que lá se põe no mar, ao contrário de outros paraísos menos conspurcados, quando, eis que senão quando, inusitada morena pernalta, que às noites, às vezes, gostava de embalar-me entre zabumbas e ziriguiduns no cafofo da avenida central, menos avenida e mais central, já que rua não havia, e nem havia de haver, que a cidade era um areal só, valha-me Deus!, me cochicha com jeito sei lá que coisa, mas era coisa das boas, se me lembro bem, que eu meio maroto tinha mais respeito que medo de mulher safada e convidadeira, mais dadeira que safada, é verdade, mas que mui boa gente era, ainda que tolinha e lugarenha - era das bandas de Aracati , a cearina, ou seria mais melhor cearense ou cearuda, se bem me lembro da bunda e arredores, principalmente os arredores, que quando vi, minha virgem, pensei ter visto as dobras do pala do Capitão Rodrigo Cambará, tão grandes e vistosas lapelas - mas me convida a tipa para um refestelê molenguento e sem restrições, molenguento no começo, é claro, depois mais meia-bomba e por fim quase virando entorse - ai, minha coluna boa, que saudade! - no alto de uma falésia que eu pensei que nem havia, pois que o mar estava logo-anli-ansim, só pegar com a mão, e eu nem penso em nada, nem em Yolandas Dippes, nem em velhas inás, nem em graciemas, genovevas, marialices, zamoranas, negas-diabas, brancas-santinhas, mamelucas-malucas, mas só nela que agora vou batizar de Judite, vou confessar, sempre quis comer uma Judite, e dizer Judite com a voz surrada e os olhos lambuzentos bem no ouvidinho dela, mas assim me perco e te canso e já não arrumo mais leitores - um dia publico minhas memórias, podem crer - e o mar lá embaixo oferecendo um ritmo natural de leva-e-traz e pássaros distantes e jangadas sendo amarradas cá e lá, que tardezinha era e a noite vinha e Goldameir já tinha preparado o caldo e as gaivotas pareciam guinchar, beleza, beleza, beleza, e assim me perdi e me perdi and me, myself and I ainda estão à minha procura por aí, sei lá por onde. Melhor perguntar prum tal de Abtuso ou Abobado ou Absurdo ou Abusado ou Abdala ou Abdias ou que sei eu, que me apareceu das trevas vindo a pé da Majorlândia, sei apenas que me cutucava o lombo serpenteante e movediço que ciência tem que ter não se enterrar o pau na areia, uma vez me aconteceu e foi um desastre desastroso por demais, bem bom ser dito prá não ser imitado nem agora nem depois pelos turistas, praga desgraçada que estraga todos os coqueirais. Queimando a bunda branca, divertiu-se. Vai-te à merda, seu bostão, me lembro ter gritado, ou foi um jangadeiro, uma gaivota, o mar lá embaixo dizendo mansinho, não pode ser, não pode ser, não pode ser, mas era, o sorrisão largado, cabeleira preta ao vento, mãozona estendida, pega aqui no meu pau, seu puto!, esse agora já virando jabá, que haja lampião prá manter-se aceso tamanha ventania soprava dos altos dos olhos dele, me deixa que Judite tem hora prá voltar, a bruzunganga prá Aracati parte à noitinha, mas ainda tem forró, nos vemos por lá, depois do pirão de peixe, eu sei, fazer o quê? ... mas do que é que eu estava falando mesmo?

Xapralá, tenham dó de mim, é mais que sabido: boca-grande não entra no céu.