NÃO À INSENSATEZ, NÃO À GUERRA
por Raul Iserhard
 

O NÃO à guerra deve ser não aos USA nem ao sacrifício de vidas ou à devastação. Deve ser, como disse já Bárbara Tuchman, contra a marcha da insensatez, sempre renovada, do ser humano. Agora Bush, retomando o Big Stick, argumenta a insensatez da sua invenção sobre a ameaça à segurança nacional, sobre o "interesse vital", sobre o "compromisso" com a democracia. Uma outra insensatez, a da onipotência, a segue, uma espécie de invulnerabilidade a ser recuperada após o Trade World Center e que leva a uma imensa presunção: poder "construir" um novo Iraque democrático, esquecendo sobre que bases fazer isso. Mas há mais: a visão estreita, própria de quem ignora os fatos e pretende até cria-los, esquece a motivação e a determinação de um povo, dispensando as evidências contra todas as evidências. E a talvez pior das insensatezes: a ausência de qualquer reflexão sobre o que está sendo feito e sobre o que se pretende obter, sobre o próprio papel da opinião norte-americana e mundial, ao impor instrumentos de pressão e convencimento, não importando sua lógica ou sua falta. Uma estonteante paralisia cerebral parece envolver o Governo americano, ao fixar tão estreitamente as suas "razões" para esta guerra, pois quanto mais as dissonâncias se tornam evidentes, mais os princípios se enrijecem, impedindo o reexame, a reflexão e a mudança de curso: é preciso manter a qualquer custo o projeto inicial; e uma política que se estrutura em cima de tantos erros só tende a multiplicar-se, esse o nó da insensatez, pois ela nunca retrocede ao sensato. Persistir no erro, eis o lema inatacável; é impossível ao supremo poder a admissão do erro.

São necessários no momento grandes perguntadores, não grandes acusadores ou denunciadores. A sedução do poder, esta que anula qualquer bom desempenho, é a que deve ser perguntada, pois um governo inteligente exige de seu detentor políticas sobre os melhores julgamentos e conhecimentos disponíveis, para que estimativas cautelosas e oportunas possam ser obtidas. Para isso, se exige de uma sociedade que seja dinâmica e sábia e sensata: que conheça sua própria história. No caso, lembrar o Vietnam, a insensatez de perseguir a derrota anunciada.
 


Raul F Iserhard é Médico  e Professor Universitário e vive em Porto Alegre.