A BATALHA DA INTERNET
por Javier Del Pino, para El Pais (Madrid)
 

O valor informativo da Internet nesta guerra foi demonstrado por um marco cibernético tão frívolo quanto revelador: pela primeira vez em muitos anos a palavra "guerra" ficou acima de "sexo" na lista de termos mais procurados na rede. Nos Estados Unidos a Internet tem um valor audiovisual adicional, porque permite observar as imagens e as gravações que as televisões censuram por seu conteúdo gráfico ou antipatriótico. Ao mesmo tempo, a Internet oferece ângulos informativos inéditos nos "diários de guerra" dos repórteres ou fóruns de debate ao vivo.

A Segunda Guerra Mundial foi a guerra do rádio, a do Vietnã, a da televisão e a libertação do Kuwait foi propriedade da CNN. Mas a segunda Guerra do Golfo é a guerra da Internet. No conflito atual, nem as redes informativas de televisão nem os 500 jornalistas colocados pelo Pentágono na linha de frente oferecem a amplitude de critérios que se pode encontrar na rede.

A tecnologia de transmissão de dados em banda larga situa qualquer internauta no epicentro de uma sala virtual de controle, na qual pode escolher entre entrevistas coletivas, declarações, câmaras fixas sobre Bagdá, bate-papos, debates e, principalmente, diversas fontes informativas que proporcionam uma visão bastante completa do que está acontecendo em cada momento.

Para os americanos, a Internet proporciona a virtude da objetividade. Setenta e cinco por cento da população dos Estados Unidos acessam regularmente a Internet, em velocidade cada vez maior. Qualquer espectador de televisão cansado do excesso de patriotismo ou da falta de realismo pode observar na rede as imagens que as cadeias omitem devido a sua histórica autocensura.

As televisões que oferecem informação 24 horas por dia aumentaram seu número de espectadores, mas suas páginas da Internet dispararam em número de visitantes. A MSNBC.com, da rede NBC, duplicou o público habitual no primeiro dia de batalha. A ABCNews.com deu os primeiros passos para a criação de um canal informativo audiovisual através da Internet. Por US$ 10 mensais o visitante dispõe de todas as imagens e os sons do dia.

Um dia antes do início da guerra, a palavra "Iraque" ocupava o 42º lugar na lista de termos mais procurados no site Yahoo, normalmente encabeçada por "sexo" e "Britney Spears". Desde o começo da guerra "Iraque" é a palavra pela qual os internautas demonstram maior interesse.

Também está em curso uma guerra cibernética entre defensores e detratores da invasão do Iraque. Um grupo de hackers entrou nos computadores da televisão al-Jazeera e substituiu suas páginas por imagens de soldados americanos mortos no Iraque. Outros fizeram circular o vírus Ganda, originário da Suécia. Sob a promessa de oferecer mapas militares da guerra, o vírus destrói o disco rígido de quem o abrir.

Ao mesmo tempo, os movimentos de protesto contra a guerra, condenados à inexistência pela televisão americana, encontram na Internet sua melhor ferramenta de divulgação. Também geraram a criação do chamado hacktivismo, o ataque a servidores informáticos dos órgãos governamentais dos Estados Unidos.

Nessa mesma linha, uma página que conta o número de civis mortos na guerra está recebendo 100 mil visitas diárias. Iraqbodycount.net atualiza constantemente os números com as informações publicadas pelos jornalistas enviados ao conflito e os dados oferecidos por órgãos iraquianos e americanos.

A guerra também provocou o florescimento dos "webloggers", termo empregado para definir textos pessoais atualizados em forma de diário. Um deles, dear_raed.blogspot.com, cativou dezenas de milhares de visitantes que acompanham diariamente os sentimentos expressos supostamente por Salam Pax, que se identifica como um arquiteto de 29 anos que mora no centro de Bagdá. Pode ser que nada seja verdadeiro, mas seu diário informático descreve com precisão o que ocorre a cada dia, desde o momento e o lugar exato de cada bombardeio até a odisséia diária para conseguir comprar pão.

Alguns correspondentes de guerra também mantêm atualizado seu próprio blog, ou diário informático. Kevin Sites, enviado da CNN ao norte do Iraque, oferecia um olhar alternativo sobre as dificuldades de seu trabalho e os sentimentos pessoais que não incluía em suas crônicas, mas a rede lhe pediu para suspender o diário. Ele deixou de atualizá-lo, mas ainda pode ser lido em www.kevinsites.net.
 


Original em: http://www.elpais.es/ (só para assinantes). Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves