QUEM COMPROU QUEM?
por Carlos Gerbase
(gremista, mas, como sempre, imparcial)
 

Ano passado, quando o Internacional quase caiu para a segunda divisão, seu último jogo foi contra o Paissandu, em Belém. Os jornais da capital paraense, no dia seguinte à vitória colorada por dois a zero, disseram, com todas as letras, que o jogo tinha sido arranjado. Eu não vi o jogo, porque estava viajando (teria secado o Inter, é claro, em mais um momento de "mau-caratismo gremista", como define meu amigo Giba Assis Brasil), de modo que não posso opinar sobre o que aconteceu em campo. Se o jornalismo brasileiro fosse um pouco mais investigativo, talvez um repórter corajoso pudesse tirar essa dúvida, antes que o tempo - esse amigo da entropia e da desinformação - cubra definitivamente os fatos. Num programa Sala de Redação deste ano, houve um momento em que os ânimos se exaltaram, e a suspeita sobre aquela partida reapareceu. Mas apenas para ser rapidamente sepultada pelo mediador, como um assunto delicado demais, um verdadeiro tabu. Em várias manifestações da "crônica esportiva" posteriores à discussão, houve um esforço para desmentir o "arranjo". Nada aconteceu. O Inter ganhou honestamente.

Eis que, nesta segunda-feira que se segue a uma vitória por três a zero do Grêmio sobre o Coríntians, no Olímpico lotado, com transmissão de TV para todo o País, vários colorados com quem falei dão a entender que o jogo estava arranjado. E dizem mais: também estava arranjado o jogo contra o Criciúma. Alguns vão adiante: estavam arranjados TODOS os últimos jogos do Grêmio. Ao contrário de Inter X Paissandu, eu vi estes jogos do Grêmio, no estádio ou pela TV. E a questão é: eu paguei ingresso (ou paguei a NET), para ver uma partida de futebol ou a uma peça teatral, encenada por 22 atores? Os colorados querem me convencer que os jogadores do Coríntians não estavam a fim de ganhar. Será?

Vamos primeiro compreender a motivação colorada: trata-se de uma óbvia contra-flauta, gerada pela dolorida frustração de ver um time que todos consideravam rebaixado evitar o desastre (o que é um espelho perfeito do que aconteceu no ano passado). Mas vamos um pouco mais adiante: essa contra-flauta só existe porque OS PRÓPRIOS COLORADOS TÊM A IMPRESSÃO DE QUE O JOGO CONTRA O PAISSANDI FOI COMPRADO! É cristalino: se o Grêmio pode comprar o poderoso Coríntians, dono da segunda maior torcida do País (talvez a primeira), o que impediria o Inter de comprar o pobre Paissandu?

Claro que comprou! O Kenny Braga, o mais legítimo e acabado representante da inteligência colorada, depois do jogo Grêmio X Criciúma, cansou de levantar suspeitas de facilitação. E repetiu a dose agora, no jogo contra o Coríntians. Onde vamos parar?

Chegou a hora de deixar as coisas claras: quem comprou quem? Será que, com tantas denúncias de parte a parte, não está na hora de alguém tomar uma providência mais séria? Lembram do escândalo do futebol italiano? Lembram que descobriram que dirigentes e juízes acertavam resultados? Será que o Brasil está tão longe assim dos italianos? Eu sou apenas um torcedor romântico, que ainda acredita em chutes errados, em enganos do juiz, em destino, em técnicos que erguem times desacreditados, em superação sobre-humana, em jornadas heróicas, em defesas espetaculares do Doni e do Eduardo Martini, em Christian sendo derrubado porque esta era a única alternativa do zagueiro, em dribles de Bruno, em cobranças de falta espetaculares de Anderson Lima. Acreditei até naqueles gols do Inter contra o Paissandu, no ano passado. E tudo isso está sendo colocado por terra cada vez que o Kenny Braga abre a boca.

Onde estão os grandes repórteres? Quem vai atrás dos fatos? Quem será capaz de conversar com os jogadores do Paissandu, do Criciúma e do Coríntians? Quem vai entrevistar os jornalistas paraenses que falaram em marmelada? Ou tudo continuará envolto numa cortina de fumaça mal-cheirosa? Derrubamos Collor, dois repórteres acabaram com Nixon, a Folha de São Paulo já provou que Jesus morreu enforcado. O Peninha já mostrou com quantos paus se constrói uma caravela. Chegou a hora de calar Kenny Braga. Ou de ouvi-lo provar o que diz. Ou o futebol nunca mais será o mesmo.
 

Carlos Gerbase
gerbase@terra.com.br
 
 


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