O RENASCIMENTO DO CINEMA BRASILEIRO ACABOU.
E AGORA?
por Jorge Furtado
 

A edição 319 da Filme B (http://www.filmeb.com.br, só para assinantes) traz o ranking dos filmes brasileiros de 2003. O público do cinema brasileiro deu um salto excepcional, triplicou em um ano.

Público do cinema brasileiro nos últimos dez anos:
(e porcentagem sobre o total de ingressos vendidos)

1993...        45.547 ... (0,1%)
1994...      271.454 ... (0,4%)
1995...   2.966.239 ... (3,7%)
1996...   1.227.220 ... (4,1%)
1997...   2.401.959 ... (4,6%)
1998...   3.608.279 ... (5,4%)
1999...   5.187.758 ... (7,8%)
2000...   7.207.654 ... (10,6%)
2001...   6.978.717 ... (9,3%)
2002...   7.299.790 ... (8,0%)
2003... 21.171.320 ... (mais de 20%)

Em 2003 sete filmes tiveram mais de um milhão de espectadores:

1.Carandiru, 4.693.853
2. Lisbela e  Prisioneiro, 3.146.461
3. Os Normais, 2.932.521
4. Xuxa e os Duendes, 2.301.152
5. Maria, a mãe do filho de Deus, 2.285.195
6. Didi, o Cupido Trapalhão, 1.758.579
7. Deus é brasileiro, 1.631.259

Há dois filmes na faixa 500 mil – 1 milhão de espectadores:

8. Casseta e Planeta, 666.702 (ainda em exibição)
9. O Homem que Copiava, 664.702

Há seis filmes na faixa 100 mil – 500 mil espectadores:

10. Caminho da Nuvens, 214.830
11. Ilha Rá-Tim-Bum, 187.297
12. Amarelo Manga, 128.872
13. Cristina quer casar, 113.208
14. Dom, 108.499
15. O Homem do Ano, 104.659

Há doze filmes com menos de 100 mil espectadores:

16. Desmundo, 98.514
17. Separações, 69.697
18. Nelson Freire, 60.793
19. Durval Discos, 58.543
20. Paulinho da Viola, 54.025
21. Dois Perdidos numa noite suja, 43.780
22. Seja o que Deus quiser, 14.574
23. Apolônio Brasil, 11.500
24. Passaporte Húngaro, 3.342
25. As Alegres Comadres de Windsor, 2.977
26. Banda de Ipanema, 1.768
27. Rua Seis, sem número, 1.315.

Uma análise importante a ser feita é a média de público por cópia, que dá uma medida mais exata do desempenho dos filmes.

Público do Cinema Brasileiro 2003 - Média de espectadores por cópia.

1. Carandiru * – 19.003
2. Lisbela e o Prisioneiro * – 14.433
3. Didi, o Cupido Trapalhão * – 13.026
4. Nelson Freire – 12.158
5. Os Normais – 11.920
6. Deus é Brasileiro – 10.875
7. O Homem Que Copiava – 9.495
8. Amarelo Manga * – 9.205
9. Paulinho da Viola – 9.004
10.  Separações – 8.712
11.  Durval Discos – 8.363
12.  Xuxa e os Duendes – 7.747
13.  Maria, A Mãe do Filho de Deus * – 7.541
14.  O Homem do Ano – 5.814
15.  Dois Perdidos numa noite suja – 4.864
16.  Caminho das Nuvens – 2.942
17.  Casseta e Planeta * – 2.666
18.  Cristina quer casar – 2.632
19.  Desmundo – 2.402
20.  Apolônio Brasil * – 1.916
21.  Passaporte Húngaro * – 1.671
22.  Dom – 1.549
23.  Seja o que Deus quiser * – 1.324
24.  Rua Seis, sem número – 1.315
25.  Ilha Rá-Tim-Bum * – 1.192
26.  Banda de Ipanema – 589
27.  As Alegres Comadres de Windsor * - 270

* filmes ainda em exibição
Fonte: Filme B

Entre os grandes lançamentos (mais de cem cópias), os filmes de melhor desempenho são Carandiru e Lisbela. Os piores desempenhos são Ilha-Rá-Tim-Bum e Casseta e Planeta.

Entre os lançamentos pequenos (menos de dez cópias), os filmes de melhor desempenho são Nelson Freire e Separações. Os piores desempenhos são Rua Seis, sem número e Banda de Ipanema.

Outra análise interessante é a comparação dos rankings dos três últimos anos.

Os dez filmes de maior público em 2003 são co-produções da Globo Filmes. Mais significativo ainda que os dez sejam as dez co-produções da Globo Filmes. Estes dez filmes fizeram, juntos, 20.295.254 espectadores. Os outros 17 filmes (os não-Globo Filmes) fizeram, juntos, 876.066 espectadores. Os dez filmes Globo Filmes fizeram 23 vezes mais público que os 17 não-Globo Filmes.

Em 2003:
10 Filmes da Globo Filmes: 20.295.254 espectadores.
17 Filmes não-Globo Filmes: 876.066 espectadores.
Média de público dos filmes da Globo Filmes ..    2.029.525 espectadores.
Média de público dos filmes não-Globo Filmes..        51.533 espectadores.

Em 2003 os filmes da Globo Filmes tiveram, em média, 40 vezes mais público que os não-Globo Filmes.

As co-produções da Globo Filmes lideram o ranking há quatro anos. Em 2002 foram lançados dois filmes em co-produção com a Globo Filmes, Cidade de Deus (3.087.871 espectadores) e Xuxa e os Duendes (2.657.091), os dois filmes de maior público no ano.

Em 2002:
2 Filmes da Globo Filmes: 5.744.962
28 Filmes não-Globo Filmes: 1.574.068
Média de público dos filmes da Globo Filmes ..     2.872.481 espectadores
Média de público dos filmes não-Globo Filmes..        56.216  espectadores

Em 2002 os filmes da Globo Filmes tiveram, em média, 51 vezes mais público que os não-Globo Filmes.

Em 2001 foram lançados 23 filmes, três da Globo Filmes (Xuxa Postar, com 2.394.326 espectadores, A Partilha, com 1.449.411 espectadores, e Caramuru, com 244.034 espectadores).

Em 2001:
3 Filmes da Globo Filmes: 4.087.071
20 Filmes não-Globo Filmes: 3.054.687
Média de público dos filmes da Globo Filmes ..     1.362.357
Média de público dos filmes não-Globo Filmes..     152.734

Ou seja: em 2001 os filmes da Globo Filmes tiveram, em média, 9 vezes mais público que os não-Globo Filmes.

Não tenho o ranking de 2000, mas os campeões de público foram O Auto da Compadecida e Xuxa Requebra, os dois da Globo Filmes.

Conclusões da análise dos dados:

Poderíamos concluir o óbvio, que os filmes da Globo Filmes lideram o ranking de público do cinema brasileiro nos últimos quatro anos, mas isso todo mundo já sabia.

Poderíamos concluir também que a média de público dos filmes não-Globo Filmes está caindo nos últimos 3 anos, (152.734 em 2001, 56.216 em 2002, 51.533 em 2003), mas uma análise de média de público com um número tão pequeno de filmes e num espaço de tempo tão curto não permite conclusões sérias. Para se ter uma idéia, um único filme não-Globo Filmes (como Tainá, em 2001), com mais de 800 mil espectadores, ou um filme da Globo Filmes com menos de 300 mil (como Caramuru em 2001 ou Caminho das Nuvens, em 2003) altera imensamente a média.

Outra análise que precisa ser feita mas que já pressupõe alguma subjetividade, é que a Globo Filmes se associa, em tese, aos filmes que já tem maior potencial de mercado. São seria razoável esperar que a Globo Filmes investisse pesadamente num lançamento com centenas de cópias de um filme como, por exemplo, “Houve Uma Vez Dois Verões”, filmado em digital e com atores desconhecidos. Quer dizer, não se sabe ao certo se o filme tem mais público porque é da Globo Filmes ou é da Globo Filmes porque tem mais público. Certamente, um pouco dos dois.

O que é certo:

1. O público do cinema brasileiro está aumentando há três anos.

2. Mesmo sem entrar fundo no juízo de valor dos filmes, qualquer análise com um mínimo de bom senso conclui que melhorou a qualidade dos filmes brasileiros de grande bilheteria.

3. Os filmes têm diferentes potenciais de público. Descobrir este potencial antes do lançamento do filme é uma tarefa complicada. A medida da expectativa de público do filme, na indústria, é determinada pelo investimento no lançamento e se traduz em número de cópias. E nem sempre a expectativa se cumpre, há surpresas negativas e positivas.

4. Para atingir o grande público brasileiro, sem dinheiro, iletrado e sem acesso aos jornais, sites e revistas, qualquer produto precisa anunciar em televisão, inclusive o cinema.

5. Para aumentar a visibilidade (e o público) do cinema brasileiro é fundamental que a parceria com a televisão aumente. Isto pode vir com a compra de espaços (negociada em pacotes, talvez como parte do pagamento de dívidas que quase todas as tevês, jornais e revistas têm com o governo) e também com o surgimento da SBT Filmes, da Bandeirantes Filmes, da Record Filmes, da Gazeta Filmes...

6. O público do cinema brasileiro aumentou muito (triplicou) e do cinema estrangeiro (quase todo americano) diminuiu. Podemos concluir que existe um potencial enorme para o crescimento do público para o filme brasileiro.

7. Marketing, cross-mídia, mershandising and things, são importantes. Mas a qualidade do filme faz diferença.

8. Há filmes de grande qualidade e com público muito abaixo do seu potencial. Exemplo (na minha opinião): Desmundo. Há filmes de grande qualidade e com público adequado ao seu potencial. Exemplos (na minha opinião): Nelson Freire e Paulinho da Viola. E há filmes ruins com público muito acima do seu potencial e filmes ruins com pouquíssimo público, escolha seus próprios exemplos.

9. Em 1993 o público dos filmes brasileiros foi de 0,1% do total, 45.547 espectadores. Dez anos depois, este número é superior a 20%, 21.171.320 espectadores.

10. A qualidade só vem com quantidade. Temos que fazer mais filmes. O tal renascimento do cinema brasileiro acabou. Renascido, agora é hora de crescer.
 

Jorge Furtado
jfurtado@portoweb.com.br


Rankings da Filme B (só para assinantes):

público dos filmes brasileiros em 2003 (edição 319)
http://www.filmeb.com.br/informe/atual2/p1a.gif

público dos filmes brasileiros em 2002 (edição 266):
http://www.filmeb.com.br/informe/266/p1a.gif

público dos filmes brasileiros em 2001 (edição 221)::
http://www.filmeb.com.br/informe/221/p1a.gif

(1) Observação: o ranking da Filme B considera os filmes lançados entre dezembro de 2001 e novembro de 2002, os lançamentos de dezembro são computados para o ano seguinte. Acquaria, Xuxa Abracadabra e Sexo, Amor e Traição, lançados em dezembro 2003, não estão no ranking. Este critério é lógico mas causa algumas distorções. No ranking de 2002 nosso filme “Houve Uma Vez Dois Verões”, lançado na região sul em abril, aparece com 28.638 espectadores. O filme estreou no Rio em janeiro de 2003, onde fez 42.247 espectadores. O público total do filme foi de 70.885 espectadores e ocuparia a décima posição no ranking de 2002. Para fazer os cálculos, incluí os 42.247 espectadores cariocas desaparecidos. Esta distorção pode se refletir também em outros filmes.



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