ARMA É FEITA PRA MATAR
por Cesar Brod
14/09/2005
 
 

Tenho vira-e-mexe recebido e-Mails polemizando a questão do desarmamento. A polêmica é sempre boa, pois nos faz pensar. Às vezes a gente tem que se dar o devido tempo e retornar à origem das coisas para poder pensar melhor no significado de ações atuais.

Em primeiro lugar, arma é feita pra matar o que está vivo, de forma rápida e dando a total vantagem a quem está armado sobre quem não está. Nós nos diferenciamos de outros animais pela razão. Não fosse isto, preservaríamos nossa posse e nosso território sempre de forma agressiva como acontece de forma natural no mundo animal. Decidimos pela razão criar o conceito de justiça a partir da consciência de que, mesmo antes das armas de fogo, dominávamos o mundo. Esquecemos de algumas coisas ao longo do nosso progresso e hoje pagamos pelo que fizemos. Quem ia imaginar que a industrialização e o desmatamento resultariam em catástrofes ecológicas? Nem tínhamos como saber disto pois não dominávamos certas tecnologias que dominamos hoje.

Só que a tecnologia, a industrialização e a pressa pelo enriquecimento que nos permitiria atender a sonhos de consumo criou distorções que colocaram a justiça de lado. Pessoas ficaram à margem de uma sociedade que "podia". Quem não conseguia enriquecer de forma lícita apelava pra outras (quem lembra da Lei Seca? ou quem não sabe da fortuna que é movimentada pelo tráfico de qualquer coisa que seja proibida?). Na pressa do progresso o mundo se esqueceu de que o homem ainda é animal e submetido à seus instintos ainda busca espaço, território e status. Aí sempre se dá um jeito de se seqüestrar um par ou mais de Boeings para se atirar contra prédios-símbolo da sociedade que criamos. Não adiantava ninguém ter armas consigo num 11 de setembro.

Mas a questão toda, retomo, é a intenção. A indústria milionária de armas as faz com a finalidade que funcionem para matar. Enquanto não houver uma decisão forte pelo desarmamento mundial, quem tem um revolver para "legítima defesa" corre o risco de, tomado pelo seu lado animal, numa briga de trânsito depois de uma "happy-hour" matar alguém sem perguntar se este alguém tem um ou mais outros alguéns a sustentar.

Armas obtidas mesmo legalmente são o foco de atenção para aqueles que querem obtê-las de outra forma. Andar armado é também andar na mira. O desarmamento é, antes de qualquer plebiscito uma atitude pessoal pela paz. Havendo ou não o plebiscito, eu jamais usaria uma arma. Armas são feitas para matar e eu não quero andar com algo que, de repente, me dê este poder. O poder é sempre o limite de seu exercício e quem teve qualquer tipo de poder (quem não teve?) sabe o quanto é difícil de não usá-lo.