EU VOTO NO DIABO E SEJA O QUE DEUS QUISER
Diego de Godoy, 19/10/2005 (versão revisada em 20/10)
 

Pela minha formação, eu votaria sim. Até começar a ver os argumentos dos meus correligionários. "Sou pela paz", "vamos acabar com a criminalidade" acenderam o alerta. Tanta ingenuidade me pareceu perigosa demais. Se isso então servirá pra respaldar o propósito do governo de fugir das causas, sair pela tv depois de uma hipotética vitória do sim marquetizando a cabeça do povo com uma falsa idéia de ter AGIDO e não enfrentar as conseqüências, tô fora. Ainda que alinhado, mas não pelos mesmos motivos, com Ônix Lorenzoni, Agnaldo Timóteo e outros intelectuais, eu vou votar não porque eu não quero ver a parca verba da segurança desviada pra mais uma guerra perdida que será o combate ao contrabando tanto de armas quanto de munição pros milhares de psicopatas que continuarão armados e que devem, esses sim, ser vigiados com eficiência por uma lei que já é boa. Só por isso. O resto leva meus preceitos filosóficos de arrasto, pra bem longe do que eu considero decente.

O fato é que o plebiscito conseguiu dividir uma unanimidade: a de que TODOS nós queremos mais segurança ao invés de ter que seguir os "conselhos" desse arivista do secretário José Otávio Germano, como evitar certas ruas (mesmo as do meu bairro??), fugir e se esconder. Agora estamos uns contra os outros. Que beleza.

Ter ARMA É UM ABSURDO, mas sabe-se lá as razões de cada um. Mas essa merda de governo, seja qual for no futuro, terá condições de garantir qualquer um dos lados que vencer? Não me venha achar que esse argumento foi dado pela Veja, porque eu não me pauto por ela. Diga-se: nem mesmo li a tal edição da revista pelo não. É simplesmente uma pergunta óbvia pra qualquer um que indagou de cara COMO seria garantido o cumprimento do vitorioso se hoje temos ótimas leis que são sistematicamente burladas só porque não tem GENTE pra fiscalizar. Mesmo as mais escandalosas: poluição visual, faixas de tudo espalhadas por toda a cidade, e mesmo a atual legislação sobre armas, apesar dela permitir que apenas quem tem dinheiro possa ter acesso a esse conceito muito particular de segurança. Mesmo assim, os números da criminalidade não conferem com os registros de armas, e se não há controle sobre a venda hoje – e muito menos ainda sobre o PORTE - por que será melhor resolvida amanhã?

De toda forma, esses não são meus pontos. Quero apontar para o derrame de verbas que sairá de um orçamento capenga pra um setor que em nada me diz respeito. Pelo contrário: eu, que entrego nas mãos do Estado a minha integridade física, quero essa grana aplicada imediatamente em policiamento ostensivo, enquanto não se resolvem as reais causas. Claro que é uma afirmação da civilidade que buscamos com o sim, mas infelizmente isso só vai passar atestado pra isentar o poder público de uma ação que URGE (afinal, "vamos acabar com a criminalidade" né?).

Ao invés do país ficar dividido entre qualquer que seja o lado derrotado atribuindo aos vencedores a culpa por cada caso de barbárie futura, torço pra que a mobilização que houve em torno de um debate sem referências e dados absurdamente imprecisos e sempre tendenciosos se torne uma unidade nacional por uma ação INCONDICIONAL contra a violência, o que começa com a presença do Estado. Mas enquanto TRÊS roubos escandalosos acontecem DENTRO da PF e nem o Presidente nem o Ministro da Justiça aparecem pra pôr o pau na mesa pra dizer quem afinal manda nessa joça, esperar q o bom-senso resolva tudo é um atestado de insanidade. Pedi pelo amor de Deus pros meus amigos argumentarem o suficiente pra salvar minha alma, mas não rolou. Agora seja o que o Diabo quiser.