Como assistir a "2001: uma odisseia no espaço"
por Nelson Nadotti


(NOTA: quando soube que haveria um número especial do NÃO, o da quarentena, pensei que cabia publicar um documento escrito há três anos, muito antes de alguém sonhar com estes tempos de pandemia em que deixamos de ir ao cinema. O texto segue sem retoques, com detalhes que marcam a época em que foi criado, justamente para marcar a diferença em relação à atualidade. Agora as sessões em salas estão voltando, mas vale a pena lembrar que importância tem assistir a um filme desta forma, nem que seja para a gente reaprender a se emocionar juntos.)


No final de maio de 2017, no Rio de Janeiro, assisti a uma projeção em sala de cinema do filme "2001: Uma Odisséia no Espaço", dirigido por Stanley Kubrick.

Parece que estou falando de um fato trivial. Todos os dias são projetados filmes em salas de cinema pelo mundo afora. Que diferença faz se uma obra lançada há quase cinqüenta anos foi exibida mais uma vez em seu veículo original, o cinema, ao invés de reproduzida num Blu-Ray ou por "streaming" na versão "on-demand" de algum serviço a cabo ou via internet, que são maneiras mais modernas de se assistir ao filme? Enfim, o que há de tão extraordinário no evento "projeção em sala de cinema" para merecer ser registrado neste texto?

O extraordinário é justamente o meio para se assistir ao filme: uma sala de cinema. Porque tornou-se raríssimo de se ver assim, hoje em dia.

Era a alternativa mais óbvia para um espectador, quando "2001" veio a público em 1968. Lembro bem da primeira vez que assisti, em Porto Alegre, numa grandiosa tela de 70 milímetros e som estereofônico em 6 canais, no mês de dezembro de seu ano de lançamento - já estava em cartaz desde junho, fato comum para as grandes produções da época, como, por exemplo, "A Noviça Rebelde", que ficou mais de doze meses ocupando salas da capital gaúcha.

Revi "2001" numa sessão em cinema de Canoas, por volta de 1970 ou 71. Era uma das cópias originais, já surrada pelo uso. Naquele tempo, as cópias dos filmes circulavam no máximo durante cinco anos, prazo de validade do certificado de censura que permitia sua exibição. Cinco anos e não mais, mesmo porque as cópias se mostravam imprestáveis, arranhadas, picotadas com o passar do tempo, até a extinção do certificado. Depois deste prazo, o jeito era esperar que viesse a ser reexibido na TV. Então, era assim que se assistia a filmes: ou no cinema, ou na TV.

Mas em 1975 aconteceu o relançamento de "2001", com várias cópias novas. Era costume dos estúdios promover estes relançamentos, somente para suas superproduções com potencial de público maior, como "Lawrence da Arábia" e "Ben-Hur", para mencionar alguns.

Então, neste relançamento, quando o Cinema não era mais apenas um entretenimento, mas meu maior interesse artístico, já tendo rodado histórias em filme super-8, entrei num cinema de bairro e assisti pela terceira vez a "2001". Minhas lembranças das vezes anteriores passavam por um filtro infantil, entusiasmado pelo clima de aventura, pelos macacos e foguetes, pela fantasia. Nesta vez, em 1975, o choque foi grande para um cinéfilo de 17 anos como eu: percebi que estava defronte a um monumento, muito mais surpreendente e complexo do que o monólito negro que deflagra a trama de "2001". Era um filme que fazia pensar. Que transportava para um estado além da sala de cinema. Que hipnotizava com suas imagens e sons fora do comum.

Não dava para digerir "2001" tão facilmente quanto parecia, mesmo não sendo meu primeiro contato com ele. Daí, procurei e tive acesso ao romance escrito por Arthur Clarke, que me possibilitou compreender melhor certos detalhes intrincados da narrativa. Ao mesmo tempo, fiquei decepcionado com uma certa obviedade do escritor, e me dei conta de que a sutileza do filme era mais atraente. Li também "Mundos Perdidos de 2001", do mesmo Clarke, em que relata como um antigo conto dele serviu de ponto de partida para o roteiro do filme, que Kubrick escreveu com ele. E revela que o romance surgiu apenas depois, para ser lançado junto com a película. Ou seja, a história de "2001" era praticamente original. Uma história feita não para ser lida, mas para ser vista no cinema.

Revi "2001" durante as semanas deste relançamento. Provavelmente mais uma dúzia de vezes, num processo de mergulho na obra, buscando seu sentido. Entrava numa sessão e ficava sentado na mesma poltrona para ver a sessão seguinte. Comparava aquilo que havia entendido numa das projeções com o que ia descobrir na próxima, e percebia até que o projecionista cortava trechos importantes para a clareza da trama, ao apressar uma troca de rolos (os filmes eram projetados em várias partes, em forma de rolos; no caso de "2001" chegavam a sete ou oito partes de vinte minutos cada).

De tanto assistir ao filme, e estando a par de características que anotei no livro de Clarke sobre seu "making of", costumava chegar cedo para desfrutar a abertura musical que antecedia os créditos iniciais. A tal música era eletrônica, simulando sons espaciais, mas praticamente imperceptível para a platéia, pois a imagem desta abertura era uma tela preta, e o projecionista simplesmente não apagava as luzes. Os espectadores ficavam conversando entre si, sem se dar conta de que o filme já tinha começado. (Ou melhor, a "viagem" já começara, já que Kubrick claramente tratava o filme inteiro como uma viagem sideral, o que explica estes sons da abertura.)

Eu ficava muito irritado por não poder partilhar da experiência sensorial proposta pelo filme - com gente falando em volta e de luzes acesas, era impossível. Mesmo assim, entendia que era algo inusitado, que provocara espanto na platéia de sua estréia mundial, quando a abertura foi projetada numa sala totalmente às escuras, conforme Clarke contou no livro sobre a feitura do filme. A questão é que "2001" era uma obra destinada a conquistar um público diferente. Um público para filmes de culto, expressão que provavelmente não existia em 1968.

Este público de culto, no qual me incluo, reverencia "2001" e assiste a ele como se estivesse no Teatro Municipal para uma apresentação da "Nona Sinfonia" de Beethoven. Um evento destes requer concentração, respeito e devoção para aproveitar tudo de bom que a obra de arte oferece. Parece coisa de maluco? E é. Mas esta maluquice não tem cura. Afinal, culto à beleza não faz mal.

Voltando à característica especial de "2001": como filme que conquistou um público diferenciado, acabou sendo relançado também em fitas de vídeo, quando esta mídia surgiu, liberando os espectadores de dependerem de eventuais exibições em salas de cinema ou numa reprise de madrugada na TV aberta. As fitas VHS, na virada dos anos 70 para os 80, trouxeram ao alcance de todo o público as produções clássicas, bem como as recém-lançadas. O mesmo aconteceu com o surgimento dos canais de TV a cabo, em que era possível pagar para ver uma seleção de filmes maior do que aquela da TV aberta. E veio o DVD, com qualidade maior de reprodução, superada depois pelo Blu-Ray, que tem uma definição similar à que se via nas salas de cinema. E ainda surgiu a reprodução via internet, ou em forma de arquivo digital que cabe em qualquer computador. Seja em que plataforma for - em VHS, DVD, Blu-Ray, TV a cabo, internet, até numa telinha de celular -, pode-se assistir a "2001: Uma Odisséia no Espaço", nos dias de hoje, com uma facilidade muito maior do que no tempo em que só era exibida numa sala de cinema.

A facilidade que acaba de ser mencionada só tem uma restrição: não há mais exibição em sala de cinema. Incrível! Antes, só se via "2001" no cinema. Agora, de todo jeito, menos no cinema.

Este é um paradoxo: trata-se de filme tido como difícil, de culto, mas que pode ser encontrado (e consumido, porque para isso é que se multiplicaram as formas de se reproduzir um filme) em qualquer mídia, menos aquela para a qual foi pensado, a sala de cinema.

Porque "2001" foi feito para isso. Imagine assistir missa numa catedral, numa basílica. É uma celebração do espírito, sendo para isso necessário ocupar um espaço adequado. Pois "2001" realiza suas maiores qualidades quando é projetado numa tela grande, com som a mil, numa cópia que reproduza os detalhes de sua concepção original. Aí, sim, vale a pena assistir a "2001".

O problema é que nenhum distribuidor se arrisca a um relançamento como era feito antigamente, em várias salas, com muitas cópias. Que público vai se interessar, em vez de assistir em casa numa cópia em Blu-ray? Pouca gente, não dando retorno para o dinheiro necessário a um relançamento. Só o público devoto de "2001" prefere o cinema. O espectador comum, ah, se é para ir ao cinema, prefere filme novo, com explosão e muito tiro. "2001" não tem nada disso.

Então, a oportunidade para rever "2001" no cinema surgiu quando uma rede de cinemas inventou uma promoção: exibir filmes clássicos numa de suas salas, uma vez por mês. A lista incluía "O Mágico de Oz" e "E O Vento Levou" - além, claro, de "2001". Não por acaso, a promoção serviria para ocupar poltronas num dia de público fraco, terça-feira. Um jeito da rede de cinemas amortizar o prejuízo habitual.

Mas atenção: era uma sala só, uma sessão só, numa noite só. Pegar ou largar.

Quando me lembrei de que já fazia quarenta anos desde a última vez que vi "2001" numa sala de cinema, tratei de comprar ingresso antecipado, quase um mês antes do dia programado para a exibição única.

É verdade que eu não tinha necessidade de ver "2001" novamente em busca de seu sentido. Não precisava rever para entender a história, que conhecia em detalhes, conhecendo a estrutura de cor e salteado. Já tinha assistido ao filme em outras ocasiões, desde 1975 - na TV aberta (quando flagrei a Globo editando trechos do filme, para caber numa duração menor), em VHS, TV a cabo, DVD, Blu-Ray, internet. Mas não mais no cinema. E este é, definitivamente, meu filme favorito. Levando em conta que "2001" foi feito para ser visto em sala de cinema, eu tinha que aproveitar. Sabe-se lá quando isto voltaria a acontecer, se é que vai haver outra vez.

No dia marcado, providenciei táxi para chegar mais cedo no shopping onde ficava o cinema. Jantamos lá, minha mulher e eu, para não sentir fome no meio da sessão que se iniciaria às oito da noite. Sabia que a duração prevista para o filme era de 148 minutos, o que incluiria certamente a famosa abertura com tela escura e música eletrônica, e ainda um pequeno intervalo no meio da projeção, mais os créditos finais ao som de "Danúbio Azul", a música se prolongando com tela escura (de novo) mesmo depois de encerrados os letreiros.

De repente, me peguei pensando: será que sou o único a planejar todas esta estratégia para uma sessão de culto? Vai ter mais alguém vendo o filme? Quantos? E que tipo de gente é esta que vem numa terça-feira à noite ver a sessão única de "2001"? Não devem ser como aqueles que ouvi, tempos atrás, se queixando que era um filme longo demais - ou seja, chato.

Ao entrar na sala dez minutos antes da hora marcada, encontrei um par de homens sentados nas poltronas ao lado da minha. Digo "par" porque, bem, poderia ser um casal. Um deles na faixa de cinqüenta anos, outro com no máximo quarenta. Vi uns gatos pingados ocupando seus assentos, foram chegando outros, um deles com o inevitável balde de pipocas fedorentas. Todos com cara de "nerd". Esta a identidade deles: "nerd", a gíria americana para o que se chamava antigamente de CDF.

Fiquei curioso para perguntar: quem aqui nunca viu "2001"? Evidente que todos conheciam bem o filme. Vieram para o culto, afinal. Vi ainda uma dupla de garotas com quinze anos que sentou na minha frente, uma delas de olho no celular. Refleti: será que a garota vai deixar o celular ligado, como costumam fazer acintosamente em qualquer filme atual? Mais ainda: vai ter babaca fazendo barulho enquanto come pipoca, durante a projeção? Pior, vão ficar batendo papo como se estivessem em suas casas? Vão esculhambar a sessão mais especial do filme mais especial?

A sala foi enchendo aos poucos, não lotou, talvez a metade dos assentos ficando ocupada, se tanto. Oito da noite, ainda com as luzes da sala acesas, começaram a exibir propagandas, avisos, trailers de próximos lançamentos, enquanto a platéia se aquietou, aguardando. Ninguém faz ia barulho comendo pipoca fedorenta, todos no maior silêncio, na expectativa. Finalmente, soaram os primeiros acordes da música eletrônica de abertura de "2001". Apertei a mão de minha mulher, sussurrei para ela, avisando: começou.

Começou, sim. Com as luzes acesas. Dei um suspiro. Parecia uma praga que vinha desde aquele relançamento em 1975. Nenhum projecionista se dá ao trabalho de apagar as luzes da sala durante a abertura, só o fazendo quando começam os créditos. Olhei em volta, reparei que a platéia de "nerds" ouvia em silêncio a música. Estariam conformados ou indiferentes ao desleixo do projecionista? Minutos depois, as imagens da cena dos créditos encheram a tela, mas a luz da sala seguia inapelavelmente acesa. E continuou assim durante "A Aurora do Homem", a grande seqüência que introduz o drama. Macacos entraram em cena - e a luz seguia acesa! Bem, a esta altura, não sob a indiferença da platéia, porque eu e vários dos espectadores elevamos a voz, num apelo de "Apaga a luz!" Mesmo assim, seguia tudo na mesma, até que um dos "nerds", com cara de professor de Matemática, nos seus trinta anos, saiu de sua poltrona e foi se queixar a um funcionário na porta da sala. Nada aconteceu. Outros gritos de reclamação. Volta o "professor de Matemática" a sair brevemente, e então a projeção se interrompeu. O "professor" regressou para a sala, agora avisando: "Vão recomeçar a sessão."

Ouvi murmúrios contrariados, eu já decepcionado, supondo que o encanto que a sessão teria estava definitivamente perdido. Alguém falou que o funcionário explicou que as luzes da sala são programadas automaticamente para desligarem e que o horário da projeção especial conflituou com o comando eletrônico e não sei mais o quê, mas ninguém aceitou a desculpa furada. Era o "2001". Inadmissível a falta de cuidado em se tratando de um clássico que tem uma platéia que sabia tudo do filme e que fazia questão de uma projeção à altura da obra-prima.

Passaram alguns minutos, recomeçaram os trailers, já sob vaias da platéia, e finalmente entrou o filme... um desenho animado chinês! Uma garota atrás de mim caiu num riso histérico. Eu mesmo tive vontade de pedir uma camisa-de-força para me controlar. Aquilo estava virando um hospício: como é que trocam "2001" por uma animação china-pau? Tive um pensamento trágico, desconfiei que não haveria mais como refazer a programação automática, que o evento seria cancelado. Mas interromperam o desenho animado, as luzes foram acesas novamente, a platéia se queixando em voz alta: "Vergonha, vergonha!"

De novo ficaram todos aguardando, entre ressabiados e esperançosos. Agora sim, a luz apagou. E acendeu de novo! Mais risos histéricos. Até que a sala voltou a ficar às escuras, a música da abertura tocando, e o silêncio dos espectadores foi imediato. O culto começou. "2001" estava sendo exibido no cinema.

Entraram as imagens da Terra, a Lua e o Sol alinhados, tendo "Assim falou Zaratustra" ao fundo. Momento mágico - se não fosse o celular da garota á minha frente, ligado, a tela do aparelho brilhando e atrapalhando minha visão. Estive a ponto de dar um tapa no cocoruto da adolescente, mandando que desligasse aquilo imediatamente, e só não o fiz porque visualizei o que estava na tela do celular: a mesma imagem projetada com o título do filme. A garota simplesmente filmava o início do "2001", enquanto era projetado ali. Contive minha raiva porque lembrei de outro jovem que fez o mesmo em 1978, quando finalmente "Laranja Mecânica", do mesmo diretor de "2001", foi liberado para exibição no Brasil, e o tal jovem levou sua câmera super-8 para registrar numa película caseira a abertura daquele filme. O jovem de que falo era eu. Entendi assim que a garota era cinéfila como eu e merecia compreensão, ainda mais que desligou o celular no fim dos letreiros iniciais.

Finalmente assistimos a "2001" como merecia: tela grande e som alto. Bem, som nem tão alto, a ponto de deixar vazar o som de outro filme projetado simultaneamente na sala vizinha. E a imagem... sinceramente, meu Blu-Ray é mais nítido e brilhante, sem um discreto granulado de cópia da cópia, resultado de anos e anos de uso dos negativos originais, que vi na projeção.

Mesmo sem ser perfeita, a exibição numa tela daquelas proporções permitiu a visão de detalhes, como na chegada de uma nave à Lua: a dimensão minúsculas de homens trabalhando em salas de controle só era possível de se enxergar numa sessão em sala de cinema.

E a famosa queixa que ouvi ao longo dos anos ("o filme é longo demais" - ou seja, chato) caiu por terra durante a projeção das viagens espaciais. Tudo tão deslumbrante que não se sentia o tempo passar. Isto confirmava a resposta de um fã do filme a alguém que perguntava o porquê de tantos detalhes mostrando acoplagem e alunissagem: porque é bonito. Ponto.

Tão encantador e bonito era o filme que quase ninguém saiu do lugar na hora do intervalo. Eu não saí, e expliquei o motivo à minha mulher, quando esta pensou em dar uma voltinha lá fora. Avisei que o intervalo durava só quatro minutos, não dava nem para ir ao banheiro. Dito e feito, o filme recomeçou, e entraram correndo dois ou três distraídos que deviam saber, como todos ali sabiam, que era assim em "2001".

Nas cenas finais, a maior justificativa para se ver em sala de cinema: a viagem do astronauta repleta de efeitos especiais, texturas inexplicáveis que se sucedem como se a câmara tivesse ingerido substâncias ilícitas. Esta, sim, uma experiência cinematográfica, que não se repete em outro veículo.

A imagem do bebê orbitando em torno da Terra encerrou o filme, com o mesmo silêncio respeitoso da platéia. Entraram os créditos finais, agora sob aplausos gerais. Muitos espectadores ficaram em seus assentos ouvindo o "Danúbio Azul" até o fim, com a tela às escuras.

Saí da sala ao lado dos "nerds" que estavam me acompanhando na sessão. Fiquei ainda com vontade de perguntar: quantas vezes já viram a este filme? Não o fiz. Deixa para lá. O importante é que há pessoas que ainda sabem a diferença que existe quando se exibe "2001" no cinema. Porque é bonito. E é assim que se deve assistir a "2001: Uma Odisséia no Espaço".



Nelson Nadotti é cineasta ("Deu pra ti anos 70", 1981; "A voz da felicidade", 1987; entre outros) e autor de televisão ("Incidente em Antares", 1994; "Senhora do destino", 2004; "A dona do pedaço", 2019; etc.) É colaborador do Não desde a primeira geração.