Desaforismos
por Juliano Dupont


* Um negro, uma mulher e um gay entram no Piratini e...

O RS teve como governador, nos últimos 30 anos, um negro, uma mulher e um homossexual.

Gostaria que aqueles que cultivam o hábito de acusar o estado de racista, homofóbico e machista, citassem um estado brasileiro - ou mesmo um país - que escolheu como chefe do executivo um negro, uma mulher e um homossexual em três décadas seguidas.

Se Collares, Yeda e Leite tivessem acontecido, por exemplo, no Canadá, qualificariam o caso como perfeito exemplo de representatividade política.

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* Sol e Aço

Mishima, em Sol e Aço, declara que está à procura de uma "verdade além das palavras". Esse drama, tão nietzscheano em tentar  combater racionalmente a Razão, só poderia ter sido superado através de um gênero a que Mishima não se dedicou - a poesia.

O seppuku (haraquiri), que sucedeu o golpe de estado brancaleônico que o autor japonês encenou com sua milícia de efebos, era um ato poético, não muito diferente da teatralização ocorrida no Maio francês. No caso de Mishima, era uma rebeldia conservadora que rejeitava a modernização ocidental ocorrida no pós-guerra japonês. Bem ao contrário do psicodrama (soi-disant) progressista de 68.

Mishima e Nietzsche só poderiam ter superado o paroxismo que os enlouqueceria através da síntese antinômica entre o racional e o irracional consubstanciado pela poesia - porque mesmo a mais delirante poesia passa pelo filtro racional ontológico da escrita.

É a música, expressão do inefável e das emoções inapreensíveis pela razão, esta verdade  - aquém e além – das palavras.

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* CTG era vanguarda.

Com o retorno da ordem clânica à política e com a retribalização da Cultura (a etnia ou a identidade coletiva fazem as vezes de tribo), testemunhamos hoje a universalização do paroquialismo:  os Centros de Tradições Indígenas, Africanas, Italianas, Israelitas, Evangélicas, LGBTS, Conservadoras, Feministas. O mundo cetegizou-se.

O relativismo e o multiculturalismo constituem o epítome do pensamento europeu. Ou seja, a decadência do ocidente é seu maior triunfo - pena que seja em forma de suicídio.



Juliano Dupont é um bípede implume (mas não um frango depenado) nascido em Bento Gonçalves há 38 anos. Sua biografia não interessa a ninguém, nem a si próprio. Para não desperdiçar o espaço, aproveita para declarar que a vida é um intervalo entre dois nadas.